Por Paulo Nogueira
Foi num editorial do Globo, e as tais forças eram os
manifestantes.
Em 1954, Roberto Marinho trabalhou intensamente para
derrubar Getúlio Vargas.
Vargas trouxe o voto secreto, deu às mulheres o direito de
votar, criou leis trabalhistas que regularam o horário de trabalho e
estipularam férias.
Em 1964, mais uma vez Roberto Marinho foi destaque para
derrubar um governo popular, agora o de João Goulart.
Jango cometeu o crime, aspas, de tentar combater a
desigualdade. Criou, por exemplo, o 13.o salário, “uma tragédia”, conforme
noticiou o Globo na ocasião.
Mesmo com esta folha corrida, a Globo se julga no direito de
falar em forças antidemocráticas.
Pausa para rir.
No mesmo editorial, a Globo se revelou magoada com a maneira
como é tratada na internet por blogs “patrocinados pelo governo”.
Nova pausa.
Nenhuma empresa jornalística tem sido tão patrocinada pelo
governo, ao longo de tantos anos, como a Globo.
Apenas nos 10 anos de PT no poder, a empresa levou 6 bilhões
de reais do governo em publicidade oficial – isto com a audiência despencando.
Isto para não falar em coisas como o dinheiro do BNDES –
nosso, portanto – que financiou a construção de uma supergráfica, nos anos
1990, que hoje é um elefante branco.
Não é só do governo federal que a Globo se abastece.
Nos meus tempos de Editora Globo, o governo do Amazonas
comprava lotes milionários de livros da Globo.
A contrapartida era um tratamento generoso na revista Época
para o então governador do Amazonas, Eduardo Braga.
Tive com Braga uma briga memorável na sede da Editora Globo
depois que publicamos um artigo desfavorável a ele. Eu era diretor
editorial naquela ocasião, e ele saiu da
reunião dizendo, ameaçador, que ia conversar com João Roberto Marinho.
Uma boa parte do patrimônio bilionário da família Marinho
vem do dinheiro público da propaganda oficial.
Durante muitos anos, quando os anunciantes já conseguiam
descontos expressivos das empresas de mídia, apenas o governo continuava a
pagar a tabela cheia, bovinamente.
Veja a tabela de preços da TV Globo para ter uma ideia de
quanto dinheiro foi para os Marinhos por esse atalho.
E mesmo assim a empresa faz pose.
No campo dos impostos a atitude é a mesma. Até os
manifestantes do MST pediram outro dia que a empresa mostrasse o Darf – o
recibo de uma multa milionária que a Receita lhe aplicou por trapaça na Copa de
2002.
Mesmo assim, a Globo começa a fazer pressão contra o Google
na questão fiscal.
É verdade que o Google levou mundialmente ao estado da arte
a sonegação legal, aspas, ao encaminhar seu faturamento para paraísos fiscais.
Como o DCM deu diversas vezes, governos no mundo inteiro – o
americano, o inglês, o alemão, o francês etc – estão tratando de acabar com a
farra fiscal do Google e de outras empresas.
A primeira providência dos governos tem sido publicar o
faturamento local do Google e a quantia que paga de imposto – uma miséria.
No Brasil, só agora – segundo o Globo – a Receita decidiu
agir. Dilma, noticiou o Globo, teria dado ordens expressas para cuidar do caso
Google.
Quem é o principal interessado? O Globo, uma vez que o
faturamento publicitário do Google no Brasil cresce vertiginosamente, e tende a
bloquear as ambições da Globo na internet.
Não que o Google não tenha que pagar o imposto devido. Tem.
Exclamação.
Mas um sonegador falando de outro?
Se a Receita cercar apenas o Google fará um trabalho pela
metade.
Enquanto a Globo não mostrar o Darf, a sociedade tem toda a
razão de entender que a Globo é mais igual que os outros perante a Receita, e
não só a Receita, lamentavelmente.
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