ESTRADA DO TEMPO
Egberto Costa
Vou pegar a bagagem da saudade e colocar na mala da vida, para poder caminhar pelas estradas do tempo, onde antes não se pensava ir.
Em cada dobra haverei de encontrar as lembranças, as tristezas, as saudades e a sua presença. Não vou em busca de ódios e não os quero. O tempo haverá de servir para guardar o que ficou de bom.
A bagagem vai recheada. Levará pedaços de vida, recortes de amores perdidos, trapos de desilusões. A mala irá pesada, vai ser difícil carregá-la sozinho. É possivel parar, na caminhada, e descansar um pouco. Na próxima curva poderei achar quem queira carregar esta bagagem comigo.
A minha estrada vai se confundir nas imensidões das outras para se tornar iguais as demais. Haverei de encontrar outros caminhantes em busca do mesmo objetivo. Vai chegar o tempo de não mais ser o centro das atrações. Torna-me-ei um anônimo na multidão e sobre minha cabeça não cairão mais as iras dos ameaçados. Não vai ser mais preciso buscar os olhos como resposta, a ninguém interessará tais detalhes.
Aí então chegou o momento de parar. Visto que não haverá razão de prosseguir viagem pela estrada onde não haja surpresas.
Será tempo também de abandonar a mala com toda a bagagem qu traz, pois o sentido de existir acabou. E das lembranças nem é bom falar.
Duma coisa não se pode fugir: arrumar a bagagem da vida para seguir a estrada do tempo.
MEMÓRIA
"Estrada do Tempo", de Egberto Costa, publicado no jornal Feira Hoje, página 17, edição de 27 de setembro de 1979, foi também o titulo do livro organizado pela jornalista Madalena de Jesus, em 2005, reunindo cronicas do jornalista Egberto Costa, que nos deixou em maio de 2002.
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