domingo, 26 de julho de 2009

NO DIA DA PADROEIRA DE FEIRA LEMBRANÇAS DA FESTA DE SENHORA SANTANA



A primeira referencia oficial sobre a Festa de Santana data de 1868.
Mas a sua realização vem de tempos mais distantes, ainda na capelinha dos Olhos D’Água, de Domingos e Ana Brandão.
Nos primórdios a festa era realizada em julho, por ser o dia 26 consagrado a Senhora Santana.
As chuvas do mês e a não interrupção das aulas no meio do ano, não permitindo uma grande afluência de público, determinaram a mudança da festa para o mês de janeiro.
Diferente do que muitos pensam a festa não saiu diretamente de julho para janeiro.
Fez um estágio no mês de setembro entre os anos 80 e 90 do século IXX.
Somente no começo do século XX ela passou para o mês de janeiro, excetuando as de 1914 e 1919 realizadas em fevereiro.
Da Capela dos Olhos D’Água a festa passou para a capelinha do Padre Antonio Tavares, o sacerdote que confessou Lucas.
No mesmo local da capelinha, onde hoje se ergue a Catedral, Padre Ovídio de São Boaventura iniciou a construção da Igreja da Matriz concluída por Monsenhor Tertuliano Carneiro e que outros foram ampliando.
Desde que surgiu, a Festa de Santana dividia-se em duas partes: a religiosa e a profana.
Além dos bandos anunciadores, inicialmente formados por jovens mascarados que montados em seus cavalos percorriam as ruas anunciando mais uma festa, da parte profana também faziam parte a lavagem da igreja e a levagem da lenha.
A lavagem acontecia na quinta-feira que antecedia a data magna.
Homens, mulheres e crianças se dirigiam para a igreja com latas, baldes e outros vasilhames e faziam a lavagem do templo.
O trabalho começava pela manhã e ao final, antes do entardecer, acompanhados por músicos, todos percorriam as ruas com as latas na cabeça.
A levagem, nos mesmos moldes da lavagem, passou a acontecer na terça-feira, vespara da procissão.
Ela teve sua origem no vai e vem das pessoas levando lenha para a enorme fogueira que era acesa em frente da igreja durante os dias da festa, quando a cidade ainda não tinha luz elétrica.
As festas da padroeira dos tempos idos estão registradas nas páginas de antigos jornais e revistas da cidade.
Outras ainda estão na memória da infância de muita gente feirense.
Essas publicações informam que nos tempos idos a Festa de Santana, com a parte religiosa e a profana, era dirigida pelos comerciantes e fazendeiros locais.
Os homens ricos da cidade, como se dizia na época.
Foi nesse tempo que aconteceu a revolta dos operários e fumageiros que inconformados com aquele privilégio decidiram também assumir a festa.
Isso aconteceu por muitos anos, até que a Irmandade de Santana abraçasse a tarefa.
No começo do século XX a irmandade foi substituída pelas comissões organizadoras ainda hoje existentes.
Das festas do passado muitos trazem na memória o tempo em que as famílias levavam as suas cadeiras e sentavam na praça para ouvir musicas e assistir os jovens dançarem em volta do coreto ao som das filarmônicas que se rivalizavam executando dobrados de autores da terra, ou tocando marchas e ranchos carnavalescos.
Das festas do passado muitos recordam o tempo das modistas e alfaiates repletos de encomendas, pois todos queriam fazer roupa nova que era exibida nas novenas, na missa festiva do domingo maior, como também no dia da solene procissão.
Tempo dos homens usando ternos brancos de linho inglês, chapéu palinha, gravata bem larga ou borboleta e o sapato de duas cores.
Tempo das senhoras exibindo o vestido novo também feito sobre encomenda.
Do tempo das grandes festas, entre as inesquecíveis está a de 1915, que marcou a inauguração do Altar Mor, construído pelo arquiteto e pintor francês Colman Linhart.
A missa solene foi celebrada pelo arcebispo D. Jerônimo Tomé e a pregação pelo orador sacro padre Antonio Ferreira.
A festa soube acompanhar os novos tempos sem perder seu sentido maior.
O de reunir em torno da padroeira, o mundo católico de Feira de Santana.
Dos velhos tempos sobreviveu apenas a tradição das filarmônicas, mesma assim sem a guerra das torcidas em volta do coreto.
Confetes e serpentinas que forravam e embelezavam o largo pavimentado com pedras irregulares, deram lugar a coloridas gambiarras...
As emoções de cada sorteio da quermesse foram substituídas pelas aventuras no parque de diversões armado na Praça Padre Ovídio...
O serviço de som anunciando que “um jovem apaixonado dedica a próxima música à moça do laço de fita azul” saiu do ar dando lugar as transmissões diretas das emissoras da cidade...
Assim foi a festa até 1987.

Em 1988, o bispo Dom Silvério tomou a decisão de separar os festejos litúrgicos das manifestações profanas.
E para dificultar qualquer resistência retornou a festa da padroeira para o mês de julho, como acontecia até o século IXX.
Ampla foi a repercussão e ante as reações contrárias os padres publicaram nota de desagravo ao bispo.
Ate Monsenhor Galvão, sempre do lado das manifestações populares saiu em socorro do chefe maior da igreja.
Muitos viram na decisão do bispo uma forma de afastar da festa os templos de candomblé da cidade, pois crescia cada vez mais suas presenças, principalmente através de Mãe Socorro e Zeca de Iemanjá.
A Igreja teve defensores, mas a grande maioria condenou o fim da festa de largo.
Sociólogo e professor da Uefs, Ronaldo Sena advertiu:
- A africanização nos festejos baianos é um fato natural, pois o profano tem sua origem no sagrado.
Sargento Reginaldo Silva, do famoso “Boteco do Regi” que baixava as portas do seu comércio no dia da procissão, pois era o primeiro o segurar o andor de São Vicente de Paula se manifestou perguntando:
“Ora essa, o que seria das festas de largo de Salvador, se Dom Lucas Neves resolvesse separar o profano do religioso?”...
O saudoso João Alfaiate, um dos primeiros a ajudar Eme Portugal na ornamentação do andor de Santana também opinou:
-As mesmas pessoas que saem na lavagem descontraidamente, também saem na solene procissão, com todo respeito que a ocasião exigie...
Sem a mistura do religioso com o profano, a Festa de Santana, outra vez no mês de julho, tem na solene procissão o único evento fora do templo da nossa Padroeira.

A Igreja de Santana sem as torres e a praça sem o coreto.

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