quarta-feira, 22 de junho de 2016

LEMBRANÇAS DAQUELE SÃO JOÃO

Por Adilson Simas
Viajo no tempo e reencontro aquela terça-feira, 23 de junho, dia a fogueira e véspera do São João de 1981, passados 35 anos.

O forró na porta das lojas chamava a atenção dos fregueses e aumentava o movimento comercial. Algumas ficaram famosas no uso desta tática, e entre elas  estava o “Mercadão das Malhas”.

Tempo de festa junina, não faltava o cidadão comum transformado em sanfoneiro para ganhar alguns trocados. Vestido em trajes típicos era visto na Sales Barbosa, Marechal Deodoro, Conselheiro Franco, Praças da Bandeira e João Pedreira e outras áreas do centro

Grupos profissionais também animavam as lojas. Entre estes, se destacava o conhecido “Os Três do Nordeste”, formado nos anos 60 pelos comerciantes, Francisco de Assis, José Bezerra e José Miranda. 

Vale frisar que já no inicio dos anos 80 o famoso grupo era contratado para participar de concurso de quadrilhas promovido pela Secretaria de Turismo. Mas o trio se gabava mesmo era de ser o responsável pela animação do São Pedro do Feira Tênis Clube.

Outro que despertava a atenção era comandado pelo motorista Manuel Alves dos Santos que no mês de junho virava sanfoneiro. Com ele, formando o trio, trabalhavam o fotógrafo José Ferreira da Silva e o carroceiro Raul Carneiro.

O clima junino fazia a alegria dos camelôs. No centro, em ruas como a Vitorino Gouveia, eles espalhavam de tudo: confecções, calçados, flores de papel crepom, chapéus enfeitados – até mesmo com  tranças.

Artigos predominantes nas calçadas eram os chapéus de palhas. Desde os mais simples, apenas com uma saudação a São João pintada na aba, aos mais enfeitados ou com abas desfiadas. Existiam também os chapéus de papel crepom enfeitados geralmente com “areia prateada” que eram destinados às crianças.

Ainda no colorido das ruas os vendedores da “sorte”. Envolto em papel crepom em forma de cravos, que as mulheres compravam para ofertar aos namorados, ou em pequenos arranjos para cabelos que os homens ofertavam as suas “eleitas”.

Algumas “sortes” nem sempre agradávam tanto para quem ofertava como para quem recebia. Uma delas, por exemplo, dizia: “Teu falso príncipe encantado/Que conquistou teu amor/é gabola inveterado/barato conquistador.

Naquele ano, enquanto a satisfação era geral entre os camelôs, o mesmo não acontecia com os vendedores de fogos, instalados ao lado da antiga Avenida Anchieta, próximo a desativada Estação da Leste, de onde só seriam transferidos muitos anos depois.

“Seo” Gomes Barbosa, como ainda hoje acontece com seus sucessores, dominava o comercio. Reclamava das exigências da Policia Técnica, logo acompanhado por outros donos de barracas, entre eles o saudoso Manuel Nascimento, também conhecido como Mané Panela.

Alegria era no Centro de Abastecimento, principalmente na área de baixo, em volta do galpão destinado para hortifrutigranjeiros. O movimento intenso, caminhões chegando a todo instante, houve uma grande demanda dos gêneros característicos da época.

Mesmo assim os consumidores não dispensavam a tradicional pechinha em busca de produtos mais baratos, notadamente os mais procurados como milho verde, laranja e amendoim. Estivessem sendo vendidos na pedra, nas barracas e nos próprios caminhões.

Sem prejuízos para a rotina da cidade, as autoridades fixavam normas  para os festejos juninos. Lembrando que “é melhor prevenir do que remediar”, o comandante Antonio Lopes Filho, do 1º BPM/FS lançou, por exemplo, uma  “Campanha de Esclarecimento”.

A nota começava dizendo que “seja evitada a colocação de qualquer substância inflamável próximo à fogueira ou em local onde estejam sendo queimados fogos” e que deveria evitar-se soltar balões na zona urbana e nas proximidades do Cis.

Por sua vez, tomando como base a semana anterior, Evaristo Leal, encarregado da Estação Rodoviária, previa a necessidade de colocar 20 ônibus em horários extras para atender as mais de quatro mil pessoas que sairão de Salvador com destino a Feira de Santana.

Finalmente, no entardecer e durante toda a noite daquela terça-feira 23, o momento maior da festa que invadia o feriado do dia 24.

No centro, bairros, subúrbios e na zona rural, todos os lares exibiam a mesa farta e na frente de cada residência uma enorme fogueira assando milho, batata e outras iguarias ao som do rádio tocando músicas que ainda não tinham duplo sentido. Cantemos pois, a música daquele tempo;

Você endoideceu meu coração, endoideceu
Agora o que é que eu faço sem o teu amor?
Agora o que é que eu faço sem um beijo teu? (bis)

Você é como água de caçimba
Limpa, doce, saborosa, todo mundo quer beber




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