Por Fernando Brito
Num texto no qual a vaidade chega a cair em gotas e o vazio
se alonga por intermináveis linhas (reproduzo-o após o post), Luciano Huck
completa o que a gíria carioca chama de “me inclua fora desta” da candidatura
presidencial que, sobretudo nos últimos dois ou três meses, alimentou com
encontros de bastidor, boatos indesmentidos, notícias plantadas e toda uma
estratégia publicitária para criar “suspense” e promoção.
Aliás, a pretensão salta do artigo na Folha com o qual ele
desembarca do navio, no qual muitos entraram de gaiatos. É quase a “renúncia” a
um cargo que facilmente poderia ter, por simples decisão pessoal, não como
fruto de um projeto coletivo, partidário. A questão é apenas a conveniência
pessoal, à qual caberia ao povo homologar, como uma claque obedece aos sinas do
diretor de platéia.
“Contem comigo. Mas não como candidato a presidente”, diz
Huck, depois de posar como alguém com que, de fato, o povo brasileiro pudesse
contar.
É o caso de perguntar o que ele fez de alcance nacional,
além de sorteios, propaganda de vitaminas e a manipulação de gente humilde,
reformando algumas casas e consertando alguns carros. Cuidou muito bem, sim,
foi de sua carreira – o que é direito dele – e de enriquecer. Virou símbolo de uma camada de novos ricos do
Brasil, onde circulavam os Aécios e Joesleys, onde se passeia de iate, viaja-se
em jatinhos e helicópteros.
E não é só neles que pairam muito acima da massa amorfa e
ignorante que para eles é o povo, nunca o agente da História mas, quando muito,
objeto de alguma caridade pontual, para provar a grandeza e a generosidade dos
nobres que, sempre com câmaras a registrar, o visita algumas vezes.
Huck prestou um único serviço ao povo brasileiro: o de
mostrar para muitos o zero grau de seriedade com que vêem o governo de um pais
que, em lugar de seguir buscando seu destino de grande nação no mundo, o vêem
como um programa de auditório, onde a população é passiva, aplaude e obedece ao
governante-apresentador, que segue o script que lhe dão os que os dirigem e
patrocinam.
Leiam o texto, talvez escrito por algum assessor que, num
rasgo de glorificação ao chefe, o compara a Ulisses, o herói grego. Realmente,
um primor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário