Em discurso em Brasília, presidente afirmou que "o dia
de hoje exige que nos lembremos e contemos o que aconteceu", ao se referir
ao golpe militar de 1964; "Devemos isso a todos os que morreram e
desapareceram, aos torturados e perseguidos, às suas famílias, a todos os
brasileiros"; Dilma Rousseff, ela própria presa e torturada durante a
ditadura, disse que "por 21 anos, nossa liberdade, nossos sonhos foram
calados", mas relembrou de "todos os processos de manifestação e
democracia que temos vivido ao longo das últimas décadas"
247 – A presidente Dilma Rousseff afirmou, em discurso em
Brasília, que "o dia de hoje exige que nos lembremos e contemos o que
aconteceu", numa referência aos 50 anos do golpe militar de 1964.
"Devemos isso a todos que morreram e desapareceram, aos torturados e
perseguidos, a suas famílias, a todos os brasileiros", disse a presidente.
Dilma fez as declarações durante assinatura do contrato para construção da
ponte sobre o rio Guaíba, do Rio Grande do Sul.
"Lembrar e contar faz parte de um processo muito
humano, desse processo que iniciamos com as lutas do povo brasileiro, pela
anistia, Constituinte, eleições diretas, crescimento com inclusão social,
Comissão Nacional da Verdade, todos os processos de manifestação e democracia
que temos vivido ao longo das últimas décadas. Um processo que foi construído
passo a passo, durante cada um dos governos eleitos depois da ditadura",
prosseguiu a presidente.
Dilma, que foi presa e torturada durante a ditadura militar,
lembrou que 50 anos atrás o Brasil deixou de ser um país de instituições
ativas, independentes e democráticas e que "por 21 anos, nossa liberdade,
nossos sonhos foram calados", mas que graças ao esforço de todas as
lideranças do passado, dos que vivem e dos que morreram, foi possível
ultrapassar os anos de ditadura.
Segundo ela, o Brasil aprendeu o valor da liberdade, de
Legislativo e Judiciário independentes e ativos, da liberdade de imprensa, do
voto secreto, de eleger governadores, prefeitos, um exilado, um líder sindical,
que foi preso várias vezes, e uma mulher também que foi prisioneira. "Aprendemos
o fato de ir às ruas e mostramos um diferencial quando as pessoas foram às ruas
demandar mais democracia. Aqui não houve processo de abafamento desse
fato", disse.
"A grande Hanna Arendt escreveu que toda dor humana
pode ser suportada se sobre ela puder ser contada uma história. As cicatrizes
podem ser suportadas e superadas, porque hoje temos uma democracia, podemos
contar nossa história. Nesse Palácio, dois anos atrás, quando instalamos a
Comissão Nacional da Verdade, eu disse que se existem filhos sem pais, pais sem
túmulos, nunca mesmo pode existir uma história sem voz. E o que dará voz à
história são os homens e mulheres livres sem medo escrevê-la. Quem dá voz à
história somos nós", concluiu Dilma.