Se alguém quer saber do caráter de um político, veja como
ele se comporta diante da perspectiva de poder.
A segunda metade do século 20 tem vários exemplos.
Na primeira interrupção de mandato presidencial, Café Filho
negou lealdade a Getúlio e saiu da História para entrar no esquecimento, tendo
de renunciar, sob alegadas razões de saúde, já em meio às articulações de um
golpe para impedir a posse de Juscelino Kubitschek.
Na segunda, com a renúncia de Jânio Quadros, não só Jango
não teve qualquer participação como seu cunhado, Leonel Brizola, ofereceu o apoio
para a resistência, se Jânio estivesse sendo vítima de algum golpe.
Pedro Aleixo, que assumiria a vaga pela doença e, a seguir,
a morte de Costa e Silva teve seu mandato de vice extinto pelos detentores
reais do poder.
Já na democracia, tivemos o episódio Collor. Itamar Franco
já tinha rompido politicamente com o Presidente, mas não fez nenhuma
articulação. Recolheu-se ao silêncio, não conspirou, não se exibiu, não se
serviu da situação, mesmo já estando na cota de desafetos pessoais do
presidente em desespero.
Em 2009, o site Terra rememorou a atitude de Itamar:
Durante esse período, Itamar Franco acompanhou de longe o
desenrolar da crise. Mesmo com seus principais assessores da Vice-Presidência,
como Henrique Hargreaves, a quem sempre se dirigiu como “irmão”, Itamar
desconversava sempre que o assunto vinha à tona. “Durante todo o processo ele
(Itamar Franco) não conversava com ninguém. Mesmo quando a crise aprofundou-se,
eu disse a ele que deveria estar preparado porque poderia ter que assumir a
Presidência da República. Itamar foi taxativo: ‘Não, isso não é assim e o
governo vai saber sair disso'”, relatou Hargreaves.
Em 2 de outubro daquele ano, ao assumir provisoriamente a
Presidência da República em decorrência do pedido de afastamento do então
presidente Collor, Itamar permaneceu no gabinete da Vice-Presidência. A partir
da tramitação do processo de impeachment no Senado, já autorizado pela Câmara,
ele “se fechou” ainda mais com seus assessores.
Mesmo assim, Itamar Franco manteve um pequeno núcleo,
incluindo Hargreaves, com quem discutia a crise. Não eram raros os momentos em
que a sua assessoria de imprensa ligava para alguns poucos jornalistas que
cobriam a Presidência da República para “tomar um cafezinho com o presidente”.
Essa era a senha para conversas em off com esses repórteres e mesmo quando
indagado sobre a sua efetivação no cargo a partir da cassação de Collor, o
presidente em exercício apenas olhava vagamente para um ponto qualquer.
Julgue você mesmo o comportamento de Michel Temer, diante do
procedimento de um homem de caráter.
Lembro a frase de Leonel Brizola, que talvez muitos
conheçam: “a política ama a traição, mas logo passa a abominar o traidor.”
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