Feira em história
Perto de
completar um ano do seu falecimento, ocorrido em 15 abril de 2015, aos noventa
anos, o professor Joaquim Gouveia da Gama, além de cordelista e laureado
maratonista, era um estudioso da vida feirense.
Por
conta das constantes perguntas que recebia de alunos e até professores sobre o
lugar exato da origem da Feira, ele
deixou nos seus arquivos este texto datado de 1993, portanto há 23 anos, quase
um quarto de século:
“Mas que
origem? Da cidade? Do povo? Da sua história?
Para melhor esclarecimento, vamos
mostrar não somente uma origem, mas cinco, descrevendo por ordem regressiva dos
fatos:
1 -
Origem da cidade propriamente dita. Esta nasceu em 16 de junho de 1973, através
da Lei Provincial que elevou a Vila da Feira de Santana à categoria de cidade,
com o nome de Comercial Cidade de Feira de Santana.
2 -
Origem da sua organização política, isto é, da sua emancipação ou independência
da Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira, em 18 de setembro de
1833. Foi nesta data que foi instalado o município, assim como sua Vila e sua
Câmara Municipal, em sessão presidida pelo presidente da câmara da Vila de
Cachoeira, tenente Luiz Ferreira da Rocha, e com secretário Joaquim da Silva e
Almeida.
3 -
Origem jurídica ou legal da sua emancipação política. Seu município foi criado
pela Resolução do Conselho Geral do Governo da Província da Bahia, em sessão de
9 de maio de 1833, sob a presidência do
então presidente da Província Joaquim José Pinheiro de Vasconcelos, em
cumprimento a Lei Imperial de 13 de novembro de 1832.
4 -
Origem do Arraial do Povoado de Santana dos Olhos D’Água. O casal Domingos
Barbosa de Araújo e Ana Brandão instalou aqui uma fazenda no começo do século
XVIII depois erigiu uma capela em honra a Sant’Ana e São Domingos. A capela foi construída no Alto da Boa Vista
e não nos Olhos D’Água (bairro) como muita gente pensa.
Naquela
época, início do século XVIII, já havia um grande movimento de gente,
especialmente de tropeiros que vinham das regiões circunvizinhas e do alto
sertão da Bahia e de outros estados, trazendo suas mercadorias em costas de
animais, assim como boiadeiros conduzindo as suas boiadas com destino ao Porto
da Vila de Nossa Senhora do Rosário da Cachoeira (hoje Cachoira), vista ser
aquela vila, naquele tempo, o maior centro comercial do Estado, depois da
Capital. As estradas principais passavam por aqui, de modos que seus
transeuntes costumavam parar para descansar em ou pernoitarem nas proximidades
da nova capela.
É bom
saber que a fazenda do casal Barbosa/Brandão era apenas uma área de
1.500 braças (cerca de 3 km ou meia
légua), de frente que começava entre as lagoas do Prato Raso e da Queimadinha
por 2.670 braças (cerca de 6 km ou uma légua) de fundo que começava entre as
lagoas já citadas até o Rio Jacuipe, através do Riacho de Cipriano, hoje Riacho
Roncador.
Como
vemos a fazenda do lado norte não ia além do Prato Raso; do lado sul dos Olhos
D’Água; do leste, do Ponto Central; e do oeste, do Rio Jacuípe. Até hoje um
terço das suas terras não foi urbanizado, isto é, continua como zona rural a
partir do Conjunto Feira IV, do Bem-Te-Vi, do Conjunto Feira X (a partir da Rua
Juçara) e do prolongamento do Riacho do Fato até o Rio Jacuípe.
Além dos
limites acima citados, isto é, em redor
da fazenda de Sant’Ana dos Olhos D’Água ficavam outras fazendas, sítios,
engenhos de açúcar e outras propriedades, formando a região da Feira de Santana
com sua população. Esse povo tinha suas culturas (mandioca, milho, feijão fumo,
cana-de-açucar, algodão, etc). Também tinha seus criatórios de bovinos,
ouvinos, suínos, eqüinos, etc. Tudo isso muito antes de Domingos Barbosa de
Araújo e Ana Brandão chegarem a esta terra. Estes também expunham suas
mercadorias à venda.
Foi
assim que teve início uma pequena feira em redor da capela de Sant’Ana e São
Domingos. A feira foi crescendo e
pessoas foram construindo suas residências em volta também da igreja e assim
foi-se formando um lugarejo, de maneira que de 1819 a 1993, uma cidade com
cerca de 450 mil habitantes e um município caminhando para mais de meio milhão.
Como
vemos o que se originou com a fazenda, com a construção da capela e com o
surgimento da feirinha foi somente a cidade e não sua população, esta sua
origem há cerca de um século, como veremos a seguir.
5 – A
origem do seu povo primitivo ou da família feirense: Ela data do início do
século XVII. Começou com o desbravador e povoador das terras da região, João Peixoto Viegas, quando adquiriu
em 1619, 1634 e 1665 as terras e campos de Itapororocas (mais tarde denominadas
São José das Itapororocas, isto é, depois de João Peixoto Viegas construiu ali
uma “casa forte de sobrado, de pedra e cal, e uma igreja, dedicada a São José
nos Campos da Cachoeira, hoje distrito de Maria Quitéria).
Maria
Quitéria foi a origem de tudo: da nossa história, do nosso povo, do nosso
progresso. Encerramos este trabalho com um trecho extraído de “Os povoadores da
Região de Feira de Santana”, de autoria do mons. Renato de Andrade Galvão,
publicado na Revista Sitientibus, da Uefs julho/dezembro de 1982, página 30.
Ele afirma que tudo começou em São José das Itapororocas: “Ali nasceu e se
expandiu o progresso da Feira de Santana com o Morgado de São José das
Itapororocas”.
“Quem
quiser se aprofundar na história da Feira de Santana procure Mons. Renato de
Andrade Galvão, ele é mestre no assunto” (Adilson Simas).
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