Por Luis Nassif
Se o caos precede a ordem e o vácuo a nova era, a situação
brasileira está como os sociólogos gostam.
Tem-se um governo Dilma decididamente sem rumo e uma
oposição medíocre, alimentando-se apenas de golpismo; um Congresso entregue nas
mãos do pior negocismo; um sistema partidário fragmentado.
E, finalmente, grupos de mídia enfrentando de forma inglória
um fim de ciclo, um período em que reinaram absolutos no universo da opinião
pública, e que está prestes a se encerrar.
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Em 2005, sob a liderança de Roberto Civita, o presidente do
Grupo Abril, foi celebrado um pacto entre os quatro principais grupos de mídia
do país: Globo, Abril, Folha e Estadão.
Tinha-se pela frente o cenário incerto das mudanças
tecnológicas trazidas pela Internet; o receio do mercado ser invadido pelas
empresas de telefonia.
A estratégia seguida foi a do magnata australiano Rupert
Murdoch: um pacto entre os grupos de mídia tradicionais visando influenciar as
eleições e conseguir, via o novo presidente, barrar a entrada dos novos
competidores.
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A estratégia falhou em 2006, 2010 e 2014. Mas conseguiram,
graças ao pesado tiroteio estabelecido, brecar a migração dos recursos de
publicidade dos meios tradicionais para os digitais.
A partir daí houve uma guerra circular: sabia-se contra quem
se estava guerreando mas sem saber o objetivo que estava se perseguindo. Assim
como nos EUA, os grandes adversários não eram as empresas de telefonia, mas as novas
redes sociais.
Quando o meio papel esgotou, saltaram na Internet. Mas a
piscina estava vazia.
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O cartel brasileiro escolheu “inimigos” irrelevantes: meia
dúzia de blogs pingados, que passaram a ser atacados como se representassem um
inimigo imaginário.
Enquanto isto, o mercado publicitário era engolido pelo
Google, Facebook e pelo maior dos integrantes do cartel: a rede Globo.
Segundo especialistas do setor, no ano passado os resultados
das Organizações Globo vão permitir a distribuição de R$ 1 bilhão em dividendos
para cada um dos três controladores.
Hoje em dia, a Globosat leva R$ 20,00 de cada R$ 100,00
pagos às TVs por assinatura; a TV aberta continua sendo um sugador de verbas; o
sistema CBN de rádio domina amplamente o setor, assim como o portal G1.
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A Editora Abril caminha para o fim. Seu único ativo
relevante, a revista Veja, não encontra compradores no mercado. Esta semana,
foi vendido o controle da Abril Educação.
O Estadão está à venda há tempos e não tem muito fôlego pela
frente. A Folha caminha para ser um pedaço da UOL – que está se consolidando
como portal de serviços e de tecnologia.
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A Globo tornou-se a grande vitoriosa? Longe disso.
Desde o ano passado, os irmãos Marinho vinham mostrando
desconforto com o enfraquecimento de seus parceiros, somado à crise de Rede
Bandeirantes e aos problemas próximos de sucessão do Grupo Sílvio Santos. Esse
enfraquecimento generalizado dos grupos de mídia, conferiu à Globo um poder
absoluto de mercado.
Dentro de algum tempo, vai começar a se discutir sua
divisão, da mesma forma como ocorreu com a ATT, o grande monopólio de telefonia
dos Estados Unidos. Sua tentativa reiterada de derrubar o governo visa impedir
qualquer ação visando reduzir seu monumental monopólio virtual
No futuro, se perceberá que a competência da Globo –
vis-a-vis a incompetência de seus parceiros – cavou a sua própria cova.
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