Por
Paulo Nogueira
Foi
uma vitória épica de Dilma, não pelos números, definitivamente apertados, mas
pelas circunstâncias em que ela ocorreu.
Dilma
teve tudo contra ela.
Primeiro,
uma mídia sempre disposta a miná-la, ou com certa sutileza, como fez a Globo,
ou com total despudor, como foi o caso da Veja.
O
ponto máximo dessa guerra da imprensa contra Dilma se deu a dois dias das
eleições, quando a Veja antecipou uma capa com acusações gravíssimas contra ela
e Lula sem prova nenhuma.
Mais
uma vez – não por coincidência – explodiram denúncias estrepitosas de corrupção
às vésperas das eleições.
Tem
sido sempre assim. Os escândalos ganham
as manchetes na hora em que os brasileiros pegam seu título de eleitor na
gaveta.
A
grande inovação, neste campo, veio de Dilma.
Ela
encontrou um argumento que a fez sair da defesa para o ataque: mostrou, com
clareza, quanto era oco o discurso moralista do PSDB.
A
única diferença a favor dos tucanos, demonstrou Dilma, é que a corrupção do
PSDB ao longos dos tempos não é noticiada e nem punida.
Da
compra de votos para a reeleição de FHC ao dinheiro público posto por Aécio na
construção de um aeroporto para uso privado, é extensa a lista de casos de
delinquência tucana varrida para debaixo do tapete.
Dilma
expôs a corrupção sob um novo ângulo, o do cinismo farisaico, e isto contribuiu
poderosamente para sua vitória.
Daqui
por diante, é presumível que os conservadores brasileiros procurem um novo
caminho para atacar a esquerda, uma vez que o moralismo foi desmascarado
espetacularmente depois de vitimar, no passado, Getúlio e Jango.
Dilma
teve que enfrentar também durante sua campanha uma dramática crise econômica
mundial, da qual país nenhum – nem a China
– conseguiu escapar.
Seus
adversários – de Aécio aos colunistas econômicos — tentaram ardilosamente
atribuir a ela os problemas econômicos decorrentes da crise mundial, como se o
Brasil fosse um patinho feio em meio a cisnes belos e felizes.
No
debate econômico, particularmente, Dilma teve a seu favor a internet — o
jornalismo digital. Milhões de brasileiros encontraram em sites jornalísticos
independentes contrapontos ao discurso único das grandes empresas
jornalísticas.
Dilma
não terá tanto tempo assim para comemorar. 2015 vai ser um ano duro. A economia
mundial continuará em crise, e o Brasil vai ter que lidar com isso.
Diante
dessa perspectiva, os eleitores, ou por cálculo ou por instinto, fizeram a
escolha melhor para eles.
No
modelo representado por Aécio, a conta de uma crise é posta nas costas dos
chamados 99% — o povo.
O
nome bonito que se dá à pancada no povo é “ajuste”. Você corta custos de
programas sociais, aumenta os juros para diminuir o consumo e frear a inflação
– e ao fim de tudo isso brota uma
recessão que ceifa empregos e massacra os salários.
Num
momento de rara franqueza pouco antes da campanha, Aécio prometeu a empresários
“medidas impopulares”.
No
modelo representado por Dilma, há um esforço concentrado para poupar ao máximo
os trabalhadores dos efeitos de uma crise.
A
voz rouca das ruas fez a escolha por quem a protegerá mais – e quem poderia
culpá-la por agir assim?
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