terça-feira, 24 de outubro de 2023

FEIRA ONTEM

                                           Almaquio,   segundo a direita fiscalizando a obra                                                                      


A ÁGUA ENCANADA

Por Adilson Simas

Nos primórdios os poucos habitantes aqui existentes bebiam água brotada dos Olhos D’Água na fazenda de Domingos Barbosa e Ana Brandão e dos minadouros e tanques.

Com o aumento da população a água passou a ser carregada em potes ou em barris no lombo dos animais e vendida a domicilio.

Este comércio era feito com dois tipos de água:

A água de beber, extraída de fontes especiais como a Fonte do Mato e era vendida mais cara.

A outra, a água de gasto, geralmente retirada do Tanque da Nação, onde os animais matavam a sede e as mulheres lavavam roupas, era vendida mais barata.

Mesmo após ser elevada a categoria de cidade, no século XIX, os habitantes continuaram bebendo água das fontes existentes.

Durante a primeira metade do século XX  período em que a cidade teve como governantes os intendentes da Velha República, os prefeitos da Nova Republica e os interventores e prefeito  dos últimos anos  do Estado Novo e os primeiros da Redemocratização, a população ainda era abastecida com água captada em cisternas e poços cavados no quintal das casas.

Somente a partir da segunda metade do século XX a população conheceria avanços no sistema de abastecimento do precioso líquido.

Tudo começou com as eleições gerais de 1950, quando Getúlio Vargas, ex-presidente e de novo candidato a presidência aqui esteve em campanha eleitoral.

Vale frisar que o Getulio Vargas foi recepcionado na residência do coronel José Pinto, pai do jovem Francisco Pinto, que na mesma eleição foi eleito vereador.

No comício  realizado na Praça João Pedreira, ao  lado do candidato a prefeito Almáchio Boaventura, na recepção na residência do coronel José Pinto e na rápida parada no distrito de Humildes, Getulio Vargas disse que se fosse eleito dotaria o povo feirense de água encanada.

Chegou a detalhar, com base nas informações passadas pelas lideranças locais, que a água seria captada da Lagoa Grande, nas proximidades do subúrbio de Santo Antônio dos  Prazeres.

Eleito, inclusive com expressiva votação nesta cidade, onde venceu o candidato Eduardo Gomes,  Getulio recebeu no Rio de Janeiro, cidade sede do governo federal, uma comissão da câmara municipal formada pelos vereadores Francisco Pinto, Wilson Falcão e Antônio Araújo (os 3 custearam suas despesas).

Durante a audiência, os vereadores cobraram o compromisso que o então candidato havia assumido em praça pública. O presidente não só reafirmou como delegou poderes ao baiano Ernesto Simões Filho, que era Ministro da Republica, para tomar todas as medidas necessárias.

Logo as obras foram iniciadas, consequentemente durante a administração do prefeito Almachio Boaventura, do mesmo partido do presidente.

Sobre este fato inconteste, muitos ainda recordam que foi nesse tempo que se instalou na cidade dois gigantes reservatórios, na época conhecidos como “caixa d’água”.

Um no antigo “Pilão sem tampa” (na foto o prefeito inspecionando a obra),  outro  no Alto do Cruzeiro, na área onde foi construída a Escola Municipal Cícero Carvalho.

Com a trágica morte de Getúlio, em 24 de agosto de 1954, os trabalhos foram interrompidos. Mas por se tratar de uma obra da maior importância, ela foi retomada assim que Juscelino Kubitschek, eleito presidente, assumiu o poder.  

Obra concluída, em janeiro de 1957  o presidente “bossa nova” veio a Feira de Santana para a grande festa de inauguração.

Chegou acompanhado do governador Antônio Balbino, do seu chefe da Casa Militar, o general Nelson de Mello e outras autoridades e foi recebido e recepcionado por João Marinho Falcão, que era o prefeito da cidade.

Aquele avanço, no caso a água encanada oriunda da Lagoa Grande  no começo abastecendo as caixas e a partir delas chegando às torneiras das residências, através do Serviço Autônomo Municipal de Água, perdurou até o final dos anos 60.

Nessa década, novamente através da União, por influência de Luiz Vianna Filho, atendendo apelos do prefeito João Durval, foi implantado em Feira de Santana o Sistema de Abastecimento de Água do Rio Paraguaçu.

No começo da década de 70, mais precisamente numa quinta-feira, 25 de fevereiro de 1971, aconteceu a inauguração oficial, com direito a torneira jorrando água na mesma Praça João Pedreira, que em 1950 ouviu Getulio Vargas prometer o primeiro serviço de água.

Além do governador Luiz Viana, em fim de mandato e outras autoridades estaduais e municipais, o ato trouxe a Feira de Santana o General Costa Cavalcante, Ministro do Interior, que representou o Governo Federal.

 Dirigia a cidade e consequentemente foi o responsável pela recepção as autoridades, o prefeito Newton da Costa Falcão, filho do mesmo João Marinho Falcão, que era o prefeito em 1957, quando houve a inauguração da primeira água encanada.

Assim que o novo sistema foi implantado, sob o comando da SESEB mais tarde transformada em EMBASA, a propaganda oficial e as lideranças políticas locais propagaram que a Feira de Santana, até o ano 2000, não teria problema de abastecimento de água.

A previsão não se confirmou, pois pouco tempo depois, ainda nos anos 80 a população já estava a exigir melhoria no serviço.

Não houve exagero na propaganda prevendo água em abundância até a virada do século. Na verdade a propaganda é que terminou sendo atropelada pelo surto de progresso e desenvolvimento que Feira de Santana começou a experimentar exatamente a partir dos anos 70.

Tanto que de 1971 quando o novo e moderno sistema foi oficialmente inaugurado, até os dias atuais, todos os governadores baianos, uns mais outros menos, estão sempre promovendo a ampliação do sistema.

Mesmo assim, a cada estação verão – e este ano não tem sido diferente, é grande a reclamação da população contra a falta do precioso liquido nas torneiras, tanto no centro como na periferia.

Aqueles que moram mais distantes, em localidades aonde a água encanada ainda não chegou, na zona rural em especial, enfrentam neste período do ano, um cenário pior do que aquele vivido pelos nossos antepassados, pois ao contrário do que ocorria nos primórdios, nos dias atuais os tanques, poços, fontes e cacimbas também  estão sempre secos.

Por isso, ainda que seja justo insistir na cobrança de providencias a quem de direito, faz melhor quem souber economizar o precioso liquido neste período de clima ardente. (Adilson Simas)

 

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