Por Fernando Brito
No final da noite de ontem, escrevi que “não há quem
desacate mais a Justiça que o Judiciário” e que ninguém a degradou
publicamente, nos últimos tempos que o auxílio-moradia–duplex do casal
Bretas&Bretas.
O sentimento estava no ar, e baixou ao papel da Folha de
S.Paulo hoje, com a reportagem Moro tem imóvel em Curitiba, mas recebe
auxílio-moradia de R$ 4.378, livre de impostos.
Dizer que é legal, embora não seja moral – argumento de 11
entre 10 juízes e adeptos da ferocidade judicial – não soluciona o problema de
um Judiciário que, faz tempo, trocou a análise legal pelo julgamento moral, a
forma que encontrou para execrar seus adversários.
Ou não foi assim que fez a exibição de pedalinhos,
barquinhos de lata, pretensões a comprar um apartamento e tudo o mais que usou
para criar na população a ideia de que Lula teria se locupletado com a
política?
Se quisermos ficar no campo da chacota, tantas vezes
utilizado contra o ex-presidente, poderíamos dizer que Moro recebeu, desde setembro de 2014, o suficiente para comprar
uma flotilha de 60 pedalinhos.
O assunto, porém, é sério demais para ser tratado com a
estupidez reinante.
Embora não seja pouco – e, pior, seja escandaloso diante do
quadro de pobreza de um país onde representa mais do que o ganho de quatro
trabalhadores de salário mínimo, que têm de morar, vestir, comer e em tudo “se
virarem” com R$ 954 – o que está em jogo
é a régua com que o Judiciário passou a medir os homens públicos, claro que
apenas quando politicamente lhe interessava fazê-lo.
Aceitar, por exemplo, que o recebimento indevido – e se pode
dizer que seja devido um auxílio-moradia a quem mora no que é seu? – de
dinheiro público é o responsável pelos sofrimentos do povo, que até mata
pessoas por falta de saúde ou de saneamento, não é a mesma conta que se pode
fazer com o bilhão que já custou aos cofres da Nação o “pixuleco” pago ao
distinto clube de suas excelências?
Repito desde que me entendo por gente e o faço outra vez: ao
se defrontar com um moralista, segure sua carteira.
Quem alardeia a moralidade dificilmente a pratica.
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