Por Sergio Saraiva
O Poeta Ferreira Gullar morreu assassinado.
Mas não em uma sala de torturas dos porões da ditadura. Foi
assassinado em algum momento pós-democratização. Foi assassinado não por um
militar ou policial depravado, mas pela pessoa mais próxima de si que
houvesse.
Seu assassino é conhecido, trata-se de José Ribamar
Ferreira. Esse José Ribamar não só assassinou o Poeta, como tomou seu lugar. Na
mais perfeita forma de ocultação de cadáver, faz se passar por ele e, hoje em
dia, escreve crônicas dominicais em seu nome.
Ninguém soube cantar tão belo e doloroso o “sufoco”, os anos
de chumbo, o país em estado de opressão pela ditadura e o último fio de
esperança como Ferreira Gullar em seu Poema Sujo:
“E também rastejais comigo
pelos túneis das noites clandestinas
sob o céu constelado do país
entre fulgor e lepra
debaixo de lençóis de lama e de terror
vos esgueirais comigo, mesas velhas,
armários obsoletos gavetas perfumadas de passado,
dobrais comigo as esquinas do susto
e esperais, esperais
que o dia venha”.
Tal beleza trágica é a melhor prova do assassinato do Poeta
quando comparada com os argumentos rasos de José Ribamar Ferreira em seu texto
de 01/06/2014 na Folha de São Paulo, ”A Copa custou caro mesmo?”. Onde,
achando-se ainda o Poeta, tenta um jogo de dizer e negar para reafirmar o que
foi dito. José Ribamar não competência para tanto.
Logo no início, roga uma praga contra a Copa no Brasil,
malsinando tumultos na porta dos estádios impedindo o acesso dos torcedores que
desistiriam de assistir aos jogos temendo por sua integridade física. Para,
logo em seguida, afirmar que não deseja tal desgraça, ainda que ela possa
acontecer. Quem sabe? Eu também não creio em bruxos, mas que eles existem,
existem. Eis um.
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