quinta-feira, 29 de maio de 2014

A MÁ QUALIDADE DA IMPRENSA BRASILEIRA É CULPA DA COPA

Luis Nassif
Em determinado momento, os estrategistas da mídia reuniram-se e constataram: o governo vai se valer da Copa para faturar as eleições de 2014. Precisamos impedir que isso ocorra.

1o Ato: apontar todos os problemas das obras da Copa e das obras que nada têm a ver com a Copa.

Foram enormemente auxiliados pela presidente Dilma Rousseff, que não aprendeu com as lições de antimarketing do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) e com o besteirol das previsões recorrentemente erradas de Guido Mantega. A lição é: nunca anuncie metas grandiosas porque, mesmo que os resultados sejam satisfatórios, a mídia cairá matando pelo fato de não serem grandiosos como foram anunciados

Foi assim que um enorme esforço de investir em mobilidade urbana foi transformado em fracasso porque as obras - que não têm nenhuma ligação direta com a Copa - não terminaram a tempo de serem inauguradas antes da Copa. Serão terminadas nos próximos meses, mas o sucesso de novas obras será rotulado de fracasso.
 2o Ato: supervalorize todos os problemas das obras e esqueça os feitos de engenharia.

Acidente de trabalho? Dê manchete, embora ocorram acidentes de trabalho em todas as construções do país. Trate como fator negativo a valorização das terras do entorno da obra: em vez de informar que se valorizaram, diga que encareceram.

3o Ato:  faça de conta que os investimentos em estádios, embora sejam financiamentos com garantias reais, saíram das verbas da Educação e Saúde.

4o Ato: Já que não existe reação por parte do governo,  dê asas à imaginação e atribua todos os males do país à Copa.

Acharam tudo isso ridículo? Ridículo, sim, mas pegou. Do salão de barbeiro e cabeleireiro aos motoristas de táxis, todos apresentam esses argumentos para apostar no fracasso da Copa.

Só que, encantados com o fato de poder jogar sozinho no campo, os jornais passaram a disparar tiros para todos os lados. E com aquele realismo que caracteriza o trabalho das redações, estão conseguindo compor peças históricas para a matéria definitiva: “Como a Copa estragou de vez a autocrítica da mídia”.
Algumas pérolas de jornais e afins:

* No seu Twitter, a ex-vereadora Soninha diz que não encontrou cartelas de Zona Azul para comprar. E o que não ocorrerá, então, com os visitantes da Copa?

Chamada da Folha de hoje: "Nos aeroportos: 'Banheiros são fedorentos', diz ministro do TCU”.

No seu perfil no Facebook, o jornalista Alberto Villas ironizou. Disse que sua empregada enviou um ferro de passar para consertar e deram um prazo excessivo para o conserto. Indaga ele: “O que não pensarão os visitantes estrangeiros na Copa?”

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