Luis Nassif
Em determinado momento, os estrategistas da mídia
reuniram-se e constataram: o governo vai se valer da Copa para faturar as
eleições de 2014. Precisamos impedir que isso ocorra.
1o Ato: apontar todos os problemas das obras da Copa e das
obras que nada têm a ver com a Copa.
Foram enormemente auxiliados pela presidente Dilma Rousseff,
que não aprendeu com as lições de antimarketing do PAC (Plano de Aceleração do
Crescimento) e com o besteirol das previsões recorrentemente erradas de Guido
Mantega. A lição é: nunca anuncie metas grandiosas porque, mesmo que os
resultados sejam satisfatórios, a mídia cairá matando pelo fato de não serem
grandiosos como foram anunciados
Foi assim que um enorme esforço de investir em mobilidade
urbana foi transformado em fracasso porque as obras - que não têm nenhuma
ligação direta com a Copa - não terminaram a tempo de serem inauguradas antes
da Copa. Serão terminadas nos próximos meses, mas o sucesso de novas obras será
rotulado de fracasso.
Acidente de trabalho? Dê manchete, embora ocorram acidentes
de trabalho em todas as construções do país. Trate como fator negativo a
valorização das terras do entorno da obra: em vez de informar que se
valorizaram, diga que encareceram.
3o Ato: faça de conta
que os investimentos em estádios, embora sejam financiamentos com garantias
reais, saíram das verbas da Educação e Saúde.
4o Ato: Já que não existe reação por parte do governo, dê asas à imaginação e atribua todos os males
do país à Copa.
Acharam tudo isso ridículo? Ridículo, sim, mas pegou. Do
salão de barbeiro e cabeleireiro aos motoristas de táxis, todos apresentam
esses argumentos para apostar no fracasso da Copa.
Só que, encantados com o fato de poder jogar sozinho no
campo, os jornais passaram a disparar tiros para todos os lados. E com aquele
realismo que caracteriza o trabalho das redações, estão conseguindo compor
peças históricas para a matéria definitiva: “Como a Copa estragou de vez a
autocrítica da mídia”.
Algumas pérolas de jornais e afins:
* No seu Twitter, a ex-vereadora Soninha diz que não
encontrou cartelas de Zona Azul para comprar. E o que não ocorrerá, então, com
os visitantes da Copa?
Chamada da Folha de hoje: "Nos aeroportos: 'Banheiros
são fedorentos', diz ministro do TCU”.
No seu perfil no Facebook, o jornalista Alberto Villas
ironizou. Disse que sua empregada enviou um ferro de passar para consertar e
deram um prazo excessivo para o conserto. Indaga ele: “O que não pensarão os
visitantes estrangeiros na Copa?”
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