segunda-feira, 24 de março de 2014

A FRACA REPRESENTATIVIDADE

Por Osvaldo Ventura
Escritor membro da Academia Feirense de Letras 
    Antes mesmo das denominadas “Manifestações de Junho de 2013”, diversas comunidades, Brasil afora, insatisfeitas com o desempenho de seus representantes para solucionar os mais variados problemas perante os poderes públicos, já vinham demonstrando o que virou rotina hoje no Brasil. Nascido do ventre da débil representatividade política e alimentado no seio das carências populares, sem lideranças formais, contudo, unido em torno de um objetivo claro e específico, o método de interrupção de vias públicas, rodovias, caminhos, etc., revelou-se o mais eficaz para levar a voz do povo às autoridades competentes e conseguir atendimento às suas reivindicações. Para mostrar eficiência na empreitada, atravessam e queimam troncos de árvores em local determinado, põem fogo em pneus, incineram pedaços de madeira e móveis inservíveis, cavam valetas, enfim, haja criatividade para aperfeiçoar esse método de pressão inadmissível aos olhos de quem sempre acreditou no mito do “brasileiro cordial”.
    A experiência, em função dos êxitos obtidos, vem crescendo a cada dia, sem embargo dos prejuízos causados a quem não tem qualquer responsabilidade pela desídia no atendimento a obras e serviços reclamados pelo povo às autoridades constituídas.
    Os legalistas de plantão (e como os há!) logo se insurgiram contra as manifestações populares, imputando às massas insatisfeitas o cerceamento da liberdade, por impedir a terceiros o sagrado direito de ir e vir. A alegação, vista pela ótica de quem foi atingido, serve como explicação, mas não prospera como justificativa, considerando-se o fenômeno consequência do fraco poder da representatividade no atual processo político brasileiro. Com efeito, o cidadão que se sente condignamente representado diante de seus governantes, não necessita apelar para meios de pressão heterodoxos, objetivando o acolhimento de suas demandas.
    Aliás, a bem da verdade, não se trata da falta ou da fragilidade das prerrogativas da representatividade nos indivíduos “de per si”. Certamente, são sinais dos tempos rondando os Trópicos, desde quando no Velho Continente há uma visível corrosão no tradicional conceito da Democracia Representativa ou Indireta. Nos Países Nórdicos, por exemplo, o fenômeno vem se projetando nitidamente como uma evolução histórica do estágio da Democracia Representativa para a etapa dialética da Democracia Participativa ou Direta. Se a Natureza abomina o vácuo, a política não faz por menos: o vazio que começa a surgir com um provável declínio da Democracia Representativa será ocupado, indubitavelmente, pelo advento da Democracia Participativa, com suas óbvias vantagens político-filosóficas e suas delicadas formulações práticas.  
    De todo modo, caberá aos líderes das massas, em seu desiderato histórico, encontrar a melhor forma de organizar politicamente a sociedade humana.

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