Farmácia Maria Isabel na Avenida Paraná em Londrina. Na porta, o médico Dr. Justiniano Clímaco da Silva. Década de 1940. Autor: desconhecido. Fonte: História de Londrina
Laura Greenhalgh
Espetáculo patético. Médicos estrangeiros são obrigados a cruzar um corredor polonês de manifestantes em jalecos brancos gritando slogans que julgam ser de grande elevação espiritual - "Revalida!", "volta pra casa", "escravo, escravo...". A nau dos insensatos parecia ecoar no dia seguinte, na imagem publicada de um médico cubano, negro, visivelmente constrangido pelo protesto de que era alvo, em Fortaleza. E as insanidades prosseguiram: da tuiteira que indaga como lidar com médicas parecidas a domésticas a comentaristas tratando os vaiados como "agentes cubanos". É triste, bate até um desalento. Não funciona dizer que é culpa do governo, saída fácil a escamotear o pior. Trata-se de preconceito.
Sabemos não é de hoje que a medicina no Brasil se fez uma profissão tão branca quanto a roupa que distingue seus profissionais - apenas 1,5% deles se declaram negros, segundo o IBGE. Dado estatístico, de uma constatação empírica - afinal, quantos clínicos ou cirurgiões negros você conhece? Não é de hoje que este país sofre da má distribuição de seus médicos, o que faz com que vastidões continuem desassistidas para o atendimento básico, o que dizer então dos casos em que se requer atendimento especializado. Como não é de hoje que, embora tenhamos o SUS, predomina em nossas vidas, bem como em nossas expectativas de futuro, a visão mercadológica da medicina, no sentido de que o melhor estará sempre reservado a quem pode bancar. Mas, ainda que saibamos de tudo, vale indagar se os atores do protesto terão vaiado apenas os profissionais de fora, inscritos no programa oficial. MAIS
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