sábado, 19 de fevereiro de 2011

LEMBRANÇAS DE CHICO PINTO. FALECEU HÁ 3 ANOS, EM 19 DE FEVEREIRO DE 2008


A DEPOSIÇÃO E A VOLTA

A eleição de Chico Pinto para prefeito ao vencer João Durval na memorável campanha de 1962, foi um duro golpe na UDN que depois de dominar o poder por oito anos mão vislumbrava perspectiva de retorno, por força do governo popular e inovador que Pinto implantou ao assumir a prefeitura em abril de 1963. O golpe militar de março de 64 foi a tábua de salvação dos udenistas que logo no mês seguinte com o apoio de militares e aliados ao PTB depuseram o prefeito eleito. No lugar de Chico Pinto assumiu o petebista Altamir Lopes que 48 horas depois cederia o lugar ao udenista Joselito Amorim. Arrancado do poder, Pinto só retornaria a cidade em outubro de 66, recebido por uma multidão na Praça da Matriz e sendo saudado com um histórico discurso do “cacique” pessedista Eduardo Fróes da Motta. Reviva aqui a deposição, vacância e a primeira visita de Pinto a cidade, pós prisão.

A VACÂNÇIA
Quarta-feira, 6 de maio de 1964. Com a câmara ainda funcionando no Paço Municipal e cercada por militares, a bancada da UDN com o apoio do PTB realiza sucessivas sessões culminando com a votação e aprovação da Resolução nº 46, declarando vago o cargo de prefeito. A aprovação foi possível porque os vereadores governistas não marcaram presença no plenário, oficializando o protesto do PSD contra o golpe em curso.

A OCUPAÇÃO
Com o cargo declarado vago, udenistas, petebistas, partidários e alguns militares se dirigiram ao gabinete do prefeito e assumiram o lugar de Chico Pinto. Providenciaram um livro com “cento e cinqüenta folhas tipograficamente numeradas”, fizeram o “termo de abertura” assinado pelo vereador udenista Godofredo Leite Filho, vice-presidente da câmara no exercício da presidência e empossaram no cargo o vereador petebista Altamir Alves Lopes, presidente da câmara em exercício, no lugar do “Bel Francisco José Pinto dos Santos, ex-prefeito do Município, tendo em vista a sua prisão pelas Forças Armadas”.
O “ELEITO”
Sexta-feira, 8 de maio de 1964. Quando o petebista Altamir Lopes ainda experimentava a cadeira de prefeito, em nova sessão da câmara os udenistas “elegeram” para concluir o mandato que Chico Pinto conquistou nas urnas, o vereador Joselito Falcão Amorim, ex-secretário da prefeitura no tempo da UDN. O termo de posse foi lavrado na página nº 2, seguindo-se mais três páginas com diversas assinaturas, algumas ilegíveis.

OS OFICIAIS
A presença de militares na deposição de Pinto não se limitou apenas às galerias da câmara. Na ocupação da prefeitura no dia 6 a ata registra a presença do “Major Hélvio Moreira, representante da VI Região Militar e demais oficiais”. No dia 8, além do “Capitão Moacyr Eleutério Damaso, representante da VI Região Militar”, no livro de posse estão as assinatura dos oficiais, Walter Alves Guimarães, Arlindo Barbosa da Silva e David Figueiredo.

A VOLTA
Arrancada do poder, cumprindo prisões e respondendo Inquéritos Policiais Militares, Chico Pinto só voltaria a Feira de Santana em 1966, na noite de quinta-feira, 27 de outubro, recebido por uma multidão na Praça da Matriz. No coreto em frente ao templo da Padroeira da cidade, com um discurso escrito que a multidão interrompeu várias vezes com aplausos, coube ao “cacique” Eduardo Fróes da Motta, do PSD, saudar o político deposto. Na seqüência alguns trechos:

SAUDAÇÃO
“Assim, é que regressam os grandes heróis da Pátria, dos campos sangrentos de batalhas, nos braços do povo, no coração do povo, transpondo os pórticos das cidades, para serem reverenciados, para receberem os louros da vitória e o agradecimento imperecível dos seus compatriotas”.

INJUSTIÇA
“Qual um herói e um mártir, sofreste, de ânimo inquebrantável, de consciência limpa e caráter altivo e forte, as agruras da injustiça e incompreensão dos homens, da pusilanimidade de alguns, da torpeza e vilania de maus filhos desta terra de Senhora Santana. Eles, que, para se assenhorearem do poder que hoje desfrutam, caluniaram-te, mentiram e traíram, legando aos seus descendentes um acervo de ações vis, que os enchem de opróbrio e vergonha e que passarão á história desta gleba de padre Ovídio, como um marco de vilania e perseguições a feirenses da estirpe e solidez de caráter de Francisco Pinto”.
MORTAL
“Detendo uma formação limpa, jamais esmorecida no percurso da estrada cheia de sofrimento, de verdadeira via crucis, não como aquela que percorreu Jesus, porque és mortal, a que te conduziram os teus opressores, os inimigos cruéis desta terra”

LÁGRIMAS
“... quanto sofriam os teus amigos, e os martírios daquela santa mãe, privada do filho do seu amor, extremoso e inocente, arrastado ao cárcere; então, é de contemplá-la como a imagem do sofrimento e da dor, lágrimas rolando de sua face augusta e melancólica,vendo-se—lhe rasgar as fibras do coração materno os punhais da delação e da calúnia, sem respeito e sem piedade cristã àquela figura impoluta, lembrando Maria em procura do filho que a impiedade dos homens transformou num réu, configurado num outro calvário”.

BOATOS
“Contemplamos emocionados esse maravilhoso espetáculo, inédito na história de Feira, não obstante insistentes ridículos e inexpressivos boatos, largamente espalhados pelos nossos ferrenhos adversários, de que as forças armadas não permitiriam a tua vinda, cassada seria a palavra dos teus amigos, espaldeirados e massacrados pela policia todos aqui presentes”.

RESPOSTA
“O povo, porém, reagiu e aqui está, coeso, delirante, emocionado, aplaudindo entusiástica e freneticamente o nosso homenageado, numa demonstração de eloqüente solidariedade e coragem, relegando ao desprezo os ingratos e truculentos inimigos da terra de Senhora Santana.

PANTEON
“Serás conduzido ao Panteon da gloria, onde fulguram os filhos ilustres e inesquecíveis, os grandes virtuosos vultos da terra de Santana, esta terra que é tua, mais nossa do que deles, pois vives no coração e na memória dos seus filhos que não se abatem e não se humilham as prepotências e aos desmandos dos nossos adversários. O povo exultante, entoando hinos e hosanas, recebe de coração aberta, te saúda te bendiz, estimado conterrâneo. É tua a cidade amada, mais nossa do que deles!

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