Por Fernando Brito
O grande problema do cinismo é
quando ele é levado a sério.
Essa é uma das grandes tragédias
brasileiras.
Ler, sem ter embrulho no estômago,
a manchete do Estadão, no seu site, onde Marcelo Odebrecht diz que “a Operação
Lava Jato foi muito positiva” e que “o Brasil precisa de uma varredura
ética” porque, afinal, “toda a sociedade
errou” é impossível.
Fico imaginando se um sujeito
pobre, que passou a mão nuns cobres de alguém num assalto vai ser convidado
pelo juiz a dissertar sobre as razões que o levaram a assaltar.
Mas é pior ainda ver isso ser
levado a sério e ouvido, como se fosse uma lição de civismo, numa corte
eleitoral suprema, como se a opinião do sr. Marcelo Odebrecht nestes temas se
prestasse a alguma coisa. Aliás, em qualquer processo judicial que se preze,
testemunha não opina. Como o perdão da expressão obvia, testemunha, testemunha.
A Odebrecht nasceu e cresceu neste
ambiente. Deve a ele muito mais do que qualquer político que tenha ajudado a
eleger; lucrou incomparavelmente mais que qualquer corrupto que tenha se
relacionado. A autoridade moral que tem para dar conselhos é zero e mais ainda
quando se cala diante do que lhe fizeram para que os bilhões, que sempre se
sobrepuseram a sua honra, sejam preservados em acordos que não apenas mantêm a
empresa – o que seria correto – mas sua propriedade sobre ela.
Mas o cinismo nacional, propagado
por nossa mídia apresente um Odebrecht que ainda pretender dar lições de
moralidade.
Francamente, é nojento.
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