Por Paulo Nogueira
A célebre sentença de Eça de Queirós me ocorreu ao refletir
sobre a informação da Folha de S. Paulo a respeito das compras de imóveis de
Pizzolato na Espanha.
Mas há na verdade uma terceira hipótese, uma combinação de
ambas as coisas, má fé e obtusidade.
Não há contexto no que a Folha trouxe. Pizzolato
simplesmente, por força das circunstâncias, aparece aos olhos do leitor como um
gatuno.
O site O Cafezinho fez o que a Folha não fez: pesquisou.
Encontrou uma reportagem do Correio Braziliense de alguns meses atrás sobre o
mesmo Pizzolato.
Nela, Pizzolato, aparece se desfazendo dos imóveis que tinha
no Brasil. Importante: todos os imóveis estavam em sua declaração de renda,
esmiuçada pela Receita Federal.
Pizzolato tinha vendido seus imóveis já há alguns anos por
razões estritamente lógicas. Ele ao ver a fúria assassina do STF temia que o
patrimônio de uma vida inteira fosse ficar indisponível exatamente na hora em
mais precisava dele.
Na mesma linha da lógica da sobrevivência ele se separou
legalmente da mulher Andrea, mas não de fato. Assim, ele poderia pôr seus bens
no nome dela.
A reportagem do Correio Braziliense conta que ele chegou a
morar na Espanha, com intenções de se fixar lá.
Tudo isso que estou colocando aqui estava ao alcance da Folha
com um simples clique no Google. Por que o jornal não fez nada?
Voltamos então à frase de Eça de Queirós.
A “revelação” da Folha foi suficiente para provar teses de
colunistas arquiconservadores. Reinaldo Azevedo por exemplo, disse que as
compras de Pizzolato tornavam ridículas as vaquinhas dos condenados do
mensalão.
Azevedo – que tem uma comovente fixação por mim desde que
critiquei seu amigo Diogo Mainardi alguns anos atrás – é o mesmo que disse que
Margareth Thatcher morreu pobre. Thatcher, como todo mundo sabia exceto
Azevedo, deixou uma casa em Mayfair, o bairro mais nobre de Londres, no valor
calculado de 15 milhões de reais. A casa era apenas um dos bens de Thatcher.
A mesma disposição que a Folha sente em investigar Pizzolato
não se manifesta, infelizmente, quando se trata de alguém poderoso. A Folha
abandonou abjetamente a investigação da sonegação bilionária da Globo depois de
ter dado uma única nota. Recebeu um pito da Globo, provavelmente.
No planeta Folha a sonegação – documentada – simplesmente
deixou de existir. Este é o jornal que durante anos nos atormentou com o slogan
publicitário em que dizia que não tinha rabo preso com ninguém.
O caso Pizzollato tem sim que vir à luz. Mas não do jeito
que a Folha está fazendo.
Mais uma vez: é má fé ou inépcia – ou ambas as coisas.
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