E SECA ACABOU?
A maior seca dos últimos 50 anos! 250
Municípios em situação de emergência! 5 milhões de pessoas afetadas pela seca
na Bahia! Essas eram algumas das manchetes veiculadas pela imprensa e
utilizadas como frases de efeito pelas autoridades diante de um longo período
de estiagem que trouxe muitos transtornos à vida das pessoas e à economia do
Estado, resgatou o velho carro-pipa, o clientelismo político e a indústria das
secas.
Diante
do grave problema, a sociedade entrou em ebulição: os Municípios (re)arrumaram
as Comissões de Defesa Civil, transformando-as em Conselhos Municipais de
Defesa Civil; criaram-se Comissões Municipais de Acompanhamento às Ações
Emergenciais de Combate aos Efeitos das Secas; o governo liberou alguns
trocados para amenizar a situação. Mas de repente, tudo mudou: bastou chegarem uma (por enquanto, única)
cesta de alguns poucos quilos de arroz e de feijão, o “vale-seca” de R$ 65,00
por quatro meses, anúncio de crédito subsidiado e São Pedro mandar um pouco de
chuva para algumas localidades isoladas – basicamente a região do Recôncavo,
para não se falar mais no assunto. O
tema saiu da pauta da mídia local, estadual e nacional; os governantes deixaram
de falar no assunto; os movimentos sociais recuaram; as mobilizações municipais
murcharam. Feira de Santana é um exemplo disso: a “Comissão de Seca” que foi
criada, com ampla representação da sociedade, reuniu-se por três vezes na
primeira semana; depois, com uma semana; depois, com quinze dias. E nunca mais
reuniu-se. Nas reuniões realizadas, discutiram-se questões relacionadas às
medidas emergenciais e a necessidade de se buscarem medidas estruturantes para
evitar que a falta de água voltasse a ocorrer no próximo período de seca;
falou-se da construção de açudes, um proprietário rural chegou a oferecer
áreas; falou-se da construção de pequenas barragens ao longo do rio Jacuipe;
descobriu-se que havia um programa federal que poderia apoiar tais iniciativas.
Nada mais aconteceu.
É
que a prioridade agora é outra. Fala-se somente das eleições municipais, das
coligações partidárias, das possibilidades de acesso ao poder. Este é o assunto
predileto do momento, inclusive em quase todos meios de comunicação. O governo agradece, porque deixou de ser
cobrado e acuado, mas a população padece, já que a seca continua, mesmo
naqueles lugares que chegou uma pequena quantidade de chuva, mudando inclusive
a paisagem, com o verde exuberante que emergiu, a “seca verde” continua.
Um
programa permanente de enfrentamento dos efeitos da seca só seria possível com
a cobrança e pressão igualmente permanentes dos movimentos sociais, dos
sindicatos de trabalhadores rurais e demais organizações que atuam no meio
rural. Afinal, como diria frei Beto, “governo é como feijão, só amolece com
pressão”. Na ausência disso, fica tudo como dantes no quartel de Abrantes. Mas
os efeitos das secas continuam devastadores, afetando diretamente a vida daqueles
que vivem da agricultura e indiretamente toda sociedade, porque, a economia
afetada, atinge a todos: os alimentos sobem de preço, a circulação de dinheiro
diminui, o desemprego cresce.
Ildes Ferreira de Oliveira
Sociólogo, professor titular do
DCHF/UEFS.
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