sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

GOVERNO JÁ DEU PENSÃO A SETE TRINETOS DE TIRADENTES

A pretexto de render homenagens à memória de Tiradentes, o governo brasileiro levou à força o pescoço da Viúva.

A ditadura militar criou, em 1969 a ‘Bolsa Tiradentes’.

Destinava-se a brindar com aposentadorias vitalícias os "últimos três trinetos" do mártir da Independência.

Responsável pela restituição da memória da prebenda, o repórter Bernardo Mello Franco conta, na Folha:

Súbito, outros beneficiários foram brotando do nada.

Nas pegadas dos "últimos três" surgiram mais quatro descendentes de Tiradentes.

Comprovaram o parentesco e tornaram-se beneficiários da pensão –dois sob Sarney; uma sob FHC.

Decorridos 42 anos desde a instituição do mimo, uma ancestral do alferes continua apalpando a aposentadoria até hoje: a tetraneta Lúcia de Oliveira Menezes.

A despeito do baixo valor –dois salários mínimos—, o benefício desperta cobiça inaudita. Lúcia tem duas irmãs. Ambas cogitam requerer a pensão.

Não são as únicas. Descobriu-se que a árvore genealógica de Tiradentes é inacreditavelmente frondosa.

Lúcia avisa que tem algo como 200 parentes da mesma geração. "Tenho primo para tudo quanto é canto”, diz ela. “Eu acho que eles têm direito também".

Lucia receia que, além da parentela genuína, aproveitadores tentem tirar proveito da valiosa memória do mártir:

"Tem gente que gosta de se aproveitar, né? Mas eu acho difícil. A Justiça é lenta, mas não é injusta".

Vem de longe, como se vê, a cultura do privilégio que converteu o Brasil em empreendimento unifamiliar. Os ex-governadores "vitalícios" apenas aperfeiçoaram a técnica.

Quanto ao barulhinho que você ouve ao fundo, não se preocupe. É apenas o ruído dos pedaços de Tiradentes revirando na cova.
Escrito por Josias de Souza

Nenhum comentário:

Postar um comentário