Antes de brindar seus leitores com um poema de Eurico Alves
Boaventura sobre o Cinema Sant`anna, o crítico literário Dival Pitombo lembrou
o que ele denominou “A guerrinha de cinemas”. A crônica de Dival é de 1978 e o
poema de Eurico dada de 1932. Recordemos:
DIVAL – GUERRINHA DE
CINEMAS
O Cinema Sant`anna era a única casa de diversão da cidade.
Para ela convergia toda a população, principalmente aos domingos, quando
vibrava com as aventuras de Búfalo Bill, Tom Mix, Elmo Lincoln e Maciste. Vez
por outra um filme de Rodolfo Valentino, Adolfo Menjou ou Haroldo Lloyd
quebrava a rotina de bang - bang.
Ao piano, Anita Novais executava ritmos compatíveis com as
cenas exibidas. As de amor eram acompanhadas com valsas. As de pancadaria, com
fox-trot.
Durante muitos anos o Cinema Sant`anna funcionou sem
concorrentes. Casa sempre cheia.
Certo dia surgiu o boato de que outro cinema ia ser
instalado. A cidade exultou com esta manifestação de progresso. Chico Bahia,
idealizador do empreendimento, inaugurou o Cinema Elite, situado onde é hoje o
escritório da Coelba, quase defronte do outro.
O Sant`anna baixou imediatamente o preço do ingresso. Na
outra semana o Elite revidou o seu, colocando-o abaixo do concorrente. Em
seguida o Sant`anna reduziu mais ainda. O Elite revidou. O Sant`anna aceitou o
desafio e fez nova redução. Chico Bahia, furioso deitou na rua um Zabumba com
trombetas e cartazes onde se liam em letras garrafais:
Cinema Elite - Entrada grátis
Nesta noite o Cinema Sant`anna ficou às moscas.
Eurico Boaventura apaixonado pelo passado de sua cidade
fixou em um poema, em 1932, um retrato sentimental do cineminha que fez a
alegria de uma época, na cidade provinciana
EURICO – CINEMA
No domingo descansado, depois que as luzes da cidade cigarrearam
o cineminha sorriu possante lâmpada de duzentas velas à
porta
Cine-Teatro Sant`anna, que me fez sonhar, outrora
com bandidos roubando a minha coleção de selos
e com certa loirinha
mordendo-me a ponta do nariz...
Tom Mix e bandidos vão boxear na tela
do pequeno cineminha da Rua Direita.
Repletos camarotes.
E a platéia, completa ânsia febril de ávidas atenções
crianças.
A senhorinha de vermelho-claro ajeita vaidosa o cabelo.
A careca da frente, luzidia, polida,
está tentando um cascudo camarada.
O escriturário do armazém sacode o lenço no rosto sem suor,
para sacudir o extrato francês made in São Paulo no rosto do
vizinho
Entra, às vezes, um cheiro de rua pelos ventiladores...
Depois do espetáculo,
na noite calada e adormecida como mulher boêmia,
os meninos forte incharão o peito infantil,
quebrarão, ao lado, o chapeuzinho de feltro,
porão as mãos em atitudes de ataque
aos outros, ao alto levarão as mãos inermes,
imitando sisudos a perigosa mentira do filme americano
(Por Adilson Simas).
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