Aceitam-se críticas ao governo não propriamente por falta de
transparência, mas pela dificuldade em comunicar seus programas. Aceitam-se
críticas à condução da política econômica por parte de Guido Mantega.
Mas não as críticas de Marta Suplicy. Marta é uma pessoa
criada nas altas rodas de São Paulo, mas que se fez na política através do PT.
Sua crítica é oportunística, um passaporte para retornar ao seu habitat
natural.
Seu universo de relacionamento sempre foi a elite
paulistana; sua parceria central, os jornais, com quem sempre cultivou boas
relações. Na entrevista ao Estadão, em que procurou detonar Dilma, gabou-se do
jantar que promoveu com grandes empresários e Lula.
Nada contra.
Tornou-se sexóloga por conta própria e da Globo, locomotiva
social por conta da junção dos sobrenomes Smith de Vasconcellos e Suplicy e política por conta do peso de Suplicy. Foi
uma boa prefeita para a periferia, conforme atestam ainda hoje seus índices de
popularidade.
Comprometeu sua carreira política colocando o coração acima
dos objetivos políticos - dependendo do ponto de vista, pode até ser um
componente humanizador da sua personalidade - mas tratando Eduardo Suplicy, o
Bom, com a mesma falta de respeito que dedica, agora, ao governo do qual
participou.
Depois, alçou vôo na área federal.
Como Ministra do Turismo mostrou gana, visão estratégica,
montando planos estruturantes e conseguindo estimular o setor.
Depois, murchou. Sua passagem pelo Ministério da Cultura foi
pífia. Pior: utilizou-a como passaporte para retornar aos salões.
O primeiro sinal foi a manutenção do abandono dos pontos de
cultura e de demais políticas estruturantes do MinC. Alguém se lembra dela - a
pessoa que critica a falta de transparência do governo - prestando contas
públicas uma vez sequer de sua estratégia à frente do MinC?
O único tema que a sensibilizou foi a iniciativa de
direcionar recursos da Lei Rouanet para a moda, atropelando decisão da Comissão
Nacional de Incentivo à Cultura, que vetara um projeto de R$ 2,8 milhões do
estilista Pedro Lourenço.
Saudada no expressivo blog Chic, de Glorinha Kalil, Marta
colocou a Lei Rouanet a serviço de Lourenço, Alexandre Herchcovitch, estilistas
conhecidos no exterior, que atuam em nível de mercado.
Para tentar dar consistência a essa escolha, definiu quatro
eixos de análise dos projetos de moda: internacionalização, simbolismo,
preservação de acervos e formação de novos estilistas ou de outras pessoas
ligadas à moda. Os quatro critérios abarcavam tudo, até desfile de moda no
Brasil. Pouco público? Sem problema,
porque há muita mídia, rebatia a musa dos estilistas.
Em outros momentos, a moda mereceu uma atenção maior das
autoridades. Mas sempre foi tema do MDIC (Ministério do Desenvolvimento
Indústria e Comércio) e da Apex (Agência Brasileira de Promoção das
Exportações).
Fosse uma gestora menos fútil, Marta teria tratado de
procurar seus colegas de Ministério para discutir uma política conjunta de
promoção da moda. Aí, sim, lançaria algo estruturante, um projeto de exportação
e promoção cultural no qual o componente cultural fosse um adereço. No rastro
dos desfiles internacionais, poderia acoplar outros aspectos da cultura
brasileira, como a música e a dança.
Mas aí seria abrir mão do prazer indizível de comportar-se
como mecenas de rico com dinheiro público.
Agora, dá início ao segundo tempo de reinclusão nas rodas
sociais, exercitando o esporte preferido da elite paulistana: pau no governo
Dilma e na "falta de transparência".
Outros podem e devem exercitar essa crítica. Marta, não.
Mulher fútil.
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