quarta-feira, 2 de julho de 2014

O AMOR PELA SELEÇÃO

Choro dos craques vem do abismo entre os craques e o país, aberto pelo anti-Copa e pelo VTNC. É preciso fechá-lo

 Por Paulo Moreira Leite

 A conversa do dia é o choro dos meninos da seleção.

 Nossa seleção chora de medo, um pavor profundo, um abismo, um buraco escuro na terra. Felipão, o verdadeiro, perdeu a energia e ficou desorientado. O capitão Tiago Silva sentiu medo de cobrar pênalti. Não conseguia nem olhar o chute dos outros. Chorou tanto que ninguém entendeu.

Julio Cesar também chorou e todo mundo entendeu.

Neymar seria o primeiro a bater o pênalti.  Preferiu ficar por último. Vencemos, apesar de tudo. Mas não sabemos até onde vamos caminhar. Que importância tem isso?

 Nada, quem sabe.

Hoje, tudo.

 Eu tinha 5 anos quando o Brasil ganhou a primeira Copa. Estava no terraço – na época não se dizia varanda – do apartamento onde morava, ali na rua Cincinato Braga, no bairro paulistano do Paraíso. Lembro do barulho do alto falante de um caminhão que passava pela  rua, no volume máximo, antes de desaparecer no paralelepípedo:

--A Copa do mundo é nossa

Com o brasileiro não há quem possa...

Eeeeeeta esquadrão de ouro

É bom no samba, é bom, no couro

 Nem meus pais nem meus irmãos conheciam a música da seleção. Quem cantava  era  Lola, a  babá, uma quase adolescente levada para trabalhar em nossa casa por Alaíde, a irmã mais velha, mais durona. Lola, que era muito mais bonita, sambava e cantarolava no terraço – quando os patrões estavam longe – com sua voz suave, o sorriso sempre nos lábios, os cabelos grandes e crespos, de um jeito que só ficaria na moda dez anos depois.

Fui bicampeão quando estava de cama, em 1962.

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