E o relatório da COAF sobre o motorista do filho de Bolsonaro fica perdido no meio da edição.
Luis Nassif
Ainda não chegou o dia em que os jornais brasileiros
voltarão a fazer jornalismo. Na área policial e na primeira página, continuam,
todos, meros joguetes de procuradores, delegados e juízes, enquanto nos artigos
de fundos aumentam as preocupações com o estado policial, que eles mesmos
ajudam a alimentar.
É um jogo desmoralizador para o jornalismo.
Uma das pernas é retomar as denúncias de Marcelo Odebrecht
visando torpedear a candidatura de Renan Calheiros à presidência do Senado. Em
uma democracia, é fundamental o equilíbrio entre os poderes. E a candidatura de
Renan é a única capaz de dar alguma dimensão política ao Senado, para fazer o
contraponto democrático ao Executivo. Saca-se uma delação velha, requenta-se e
apresenta-se como nova.
Mas o destaque é esse vergonhoso episódio da delação do
Palocci.
Palocci pega um tema de conhecimento geral: o patrocínio de
um lobista ao campeonato de rúgbi do filho de Lula. A Zelotes tentou de todos
os modos ligar o caso a algum benefício. Chegou a invocar à licitação FX, dos
jatos – tocada inteiramente pela Aeronáutica. Depois, às medidas de prorrogação
de incentivos para a indústria automobilística fora do eixo Rio-São Paulo –
medida dos tempos de FHC e cuja prorrogação foi subscrita por todas as
lideranças políticas.
Agora, vem Palocci, reconta a mesmíssima história, que é de
conhecimento público, e acrescenta o ingrediente de que Lula falou com ele
sobre a propina.
Não há uma figura pública ou privada que diga que conversou
em algum momento sobre dinheiro com Lula. Nem se discuta se ele é honesto ou
não é. O fato é que nenhuma testemunha idônea afirmou ter discutido sobre
dinheiro com Lula.
Aí aparece um sujeito que quer liberdade para gozar parte do
dinheiro que ganhou, e oferece meramente seu testemunho sobre fatos de domínio
público. Nem uma prova, uma gravação, um documento. E vira manchete principal
nos principais veículos online, enquanto o relatório da COAF sobre o motorista
do filho de Bolsonaro fica perdido no meio da edição.
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