Por Fernando Britto
Lição básica do jornalismo é chamar as coisas pelo nome que
as coisas têm.
Residência é casa ou apartamento; hospital não é nosocômio,
morrer não é “passamento” nem falecer.
O Le Monde deste domingo, que já está nas bancas francesas ,
pratica um jornalismo que os jornais brasileiros não têm coragem de praticar.
“A extrema-direita chega ao poder”, manchete de “fora a
fora”, ou de oito colunas, no tempo que os jornais as tinham como medida.
Não porque brasileiros considerem a expressão
“ultrapassada”, antijornalística: a
usariam se fosse Marine Le Pen quem estivesse assumindo a presidência da
França.
Mas o vento que venta cá não pode ter o nome do que ameaçou
ventar por lá.
O jornalismo, se é que conserva este nome, passou a ser por
aqui a arte do não dizer, do esticar, puxar, endurecer ou amaciar, conforme o
freguês.
Sim, é isso, em uma linha: a extrema direita chega ao poder
no Brasil.
Talvez ainda de forma provisória, com limitações formais – e
cada vez menos – do estado de direito, com um personagem tosco, caricato ante
ao mundo.
Mas quem deixa de ver que outro, mais sofisticado, está se
articulando, vindo de Curitiba?
A luta pelo poder não está no horizonte da esquerda, mas
entre as personagens desta tragédia nacional.
Entre outras razões, porque o jornalismo brasileiro, faz
tempo, deixou de tratar as coisas pelo nome que as coisas têm.
Nenhum comentário:
Postar um comentário