Por Fernando Brito
Ninguém fique achando que as dificuldades previstas pela
Folha, hoje, ao informar que Jair Bolsonaro não conta nem com a metade dos 513
deputados da nova legislatura e que, portanto, está a léguas de formar maioria
para aprovar leis e a anos-luz de poder reformar a Constituição.
Diz levantamento do jornal que, ouvidas lideranças
partidárias, conclui-se que o novo governo terá 229 deputados a acompanhá-lo em
sua pauta econômica – ainda que não se saiba o que ela inclui, nem mesmo em
matéria de privatização.
Terá mais, não apenas porque esta é uma tendência de
governos que se instalam – e, por isso, preenchem cargos que rendem apoio
parlamentar – porque o ano legislativo
certamente já se iniciará sob a pressão do punitivismo moralista de Sérgio
Moro.
É cedo para prever o quão será forte este apoio, embora seja
possível imaginar um encolhimento ainda maior dos ex-gigantes PMDB e PSDB e,
talvez, rupturas no DEM, onde boa parte não quer nem mesmo a “semi-autonomia”
com que sonham figuras como Rodrigo Maia e ACM Neto.
Não se sabe o quanto Bolsonaro, que começa hoje uma série de
encontros com os partidos que, até agora, “esnobou”, está disposto a jogar
pesado na eleição do presidente da Câmara. A tendência é de que não o faça,
pois se sujeita a receber uma derrota como sinal do “queremos mais” dos
deputados, inclusive dos da chamada “bancada evangélica”.
Também há problemas na “oposição”, onde é grande a tentação
de seguir-se a linha idiota do “o PT precisa fazer autocrítica” como desculpa
para o divisionismo e o adesismo à direita. Também não há, no campo da
esquerda, lideranças que possam imantar as bancadas.
Minha intuição é de que está aberto o caminho para a
formação de um “neocentrão”, mercadoria fluida e capaz de se autovalorizar, de
boca aberta a esperar o momento em que o presidente eleito terá de descer do
palanque e baixar ao pantanoso terreno da política real que, como se sabe,
enlameia gente muito mais “limpinha”.
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