Por Fernando Brito
Em qualquer país do mundo,
seria manchete a confirmação que o presidente da Câmara dos Deputados,
terceiro na linha de sucessão presidencial de um governo que está ameaçado de sofrer impedimento, e tanto
da Presidenta quanto do seu vice, no caso da ação do TSE (é o que se noticia
todos os dias, não é?) teve descobertas contas ilegais num banco suíço.
Não é “suspeita”, “denúncia”, “suposição” ou “dizem”. É
informação oficial da Justiça da Suíça, com documentos, confirmada aqui pela
Procuradoria Geral da República.
É uma “bomba”, no velho jargão jornalístico. Porque nem é
preciso provar que o dinheiro é de corrupção, a simples evasão de divisas e a
não declaração de patrimônio – obrigatória tanto como candidato quanto na posse
do mandato – já é crime previsto no art. 13 da lei de improbidade
administrativa, que vale também para os deputados:
§ 3º Será punido com a pena de demissão, a bem do serviço
público, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, o agente público que se
recusar a prestar declaração dos bens, dentro do prazo determinado, ou que a
prestar falsa.
Basta estar confirmada a existência da conta, de direito ou
de fato, através de parente que não tenha razão econômica para tal para que se
peça a condenação de Cunha e, antes disso, a cassação do seu mandato.
Nas edições de hoje da Folha e do Estadão, como assinalado
na imagem, a notícia é uma “notinha” de primeira página.
Os destaques são para “suspeitas”, não para fatos; para o
“supõe-se” e não para acontecimentos.
Claro, Cunha ainda pode ter serventia. Como escreveu um daqueles inomináveis da Veja, citado hoje no
ótimo artigo de Paulo Nogueira, no DCM, será que nossa imprensa “espera que
Cunha derrube Dilma antes de ser preso.”?
O jornalismo brasileiro – salvo as ainda muitas exceções
que, por isso mesmo, não o comandam – tornou-se o exercício do facciosismo
político.
Um tipo destes, apanhado em flagrante, que se recusa até a
negar que tenha as tais contas, esquecido (talvez nunca tenha sequer pensado
nisso) de que é um homem público,, um servidor graduadíssimo da sociedade, o
comandante do processo legislativo faz isso e dão-lhe “dez centímetros”, se
tanto, das capas do jornais da “moralização” do país.
Que nome pode ter isso senão o de cumplicidade?
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