Por Paulo Nogueira
Existem problemas reais, e existem
falsos problemas.
Falso problema é, por exemplo,
Dilma falar ou não por rede de tevê no Dia do Trabalho.
Em plena Era Digital, exigir que
Dilma apareça na televisão é uma questão de obsolescência mental.
Vi, sem surpresa, a oposição
tentando tirar bovinamente proveito da decisão presidencial de limar a tevê.
Aécio pontificou.
Aécio não perde a oportunidade de
falar quando poderia ficar quieto. (E, como no caso dos professores do Paraná,
de silenciar quando deveria falar.) Renan também nos obsequiou com suas
imprescindíveis considerações sobre o gesto de Dilma. Não lembro mais o que
Renan disse, mas foi com certeza alguma coisa fascinante.
Essa é a vida.
Mas, com alguma surpresa, vi gente
de esquerda também indignada com Dilma.
Aí não faz, simplesmente, nexo.
Tudo que Dilma possa fazer para
dessacralizar a televisão entre os brasileiros é bem-vindo, dado o mal que
Globo e demais emissoras representam para a sociedade.
Repito: tudo.
Há uma tradição inercial
pró-televisão, e particularmente pró-Globo, que deve ser rompida.
Por que, por exemplo, o último
debate para presidente é ainda na Globo?
Os opositores dizem que por trás
da decisão de Dilma está um alegado receio de um panelaço.
Ainda que seja esta a motivação:
evitar as panelas dos analfabetos políticos. Mesmo assim, o fato, em si, é
positivo.
Estamos na Era Digital: é um
recado inteligente, mesmo para os paneleiros que se movem sob a manipulação da
imprensa e da própria ignorância.
Eu até admitiria pensar duas vezes
sobre o tema se Dilma fosse uma mestra da tevê, como Lula, mas definitivamente
não é o caso.
De resto, importante, mesmo, é o
conteúdo da fala.
Há vários assuntos importantes
para os trabalhadores, como a terceirização.
O pronunciamento de Dilma, seja em
que plataforma for, é uma chance para ela deixar claro que é contra –
visceralmente contra — a terceirização das atividades fim, como querem Eduardo
Cunha e seguidores.
Num plano mais sonhador, me ocorre
que Dilma poderia também endereçar sua solidariedade, ainda que atrasada, aos
professores do Paraná, tratados selvagemente pelo governador Beto Richa.
Veremos o que Dilma dirá.
De toda forma, rejeitar a
televisão foi um gesto histórico – um reconhecimento de que são outros os
tempos, e uma bofetada bem dada na Rede Globo.
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