Era 1989, ano que o Brasil tinha recém saído da ditadura
militar, quando Enoli Lara desfilou nua na escola União da Ilha representando a
deusa grega Afrodite, parte do enredo "Festa Profana". Ela fez
história na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, por ser a primeira mulher a
desfilar totalmente nua na passarela do samba. "Virei um mito
eternizado", diz a passista de 65 anos.
"Fui convidada pelo (carnavalesco) Ney Ayan e topei na
hora. Era para ser a deusa Afrodite fazendo amor com deus Baco. Ney me disse
que eu teria inteira liberdade para criar. Ele só falou: 'venha de
deusa'", relembra Enoli. "Eu tinha comprado quase 15 mil dólares de
fantasia, luvas de crinol francês com cristais Swarovski e um tapa sexo em canutilhos",
descreve.
Foi uma brincadeira com seu namorado da época, o jogador de
futebol Paulo Roberto Falcão, que a motivou a sair sem roupa no desfile.
"Naquela tarde toda de Carnaval eu fiquei namorando o Falcão, o 'Rei de
Roma'. Disse para ele que iria sair sem calcinha e que ele iria jogar champanhe
do camarote. Ele não acreditou que eu faria aquilo. Quando adentrei no setor 1,
ninguém esperava. Incorporei Afrodite e fiz movimentos de cópula. Me senti
plena a mais de 10 metros de altura. Sou eternamente grata", relembra.
Sacerdotisa do sexo
Enoli admite que este foi um ato de ousadia e rebeldia que
marcou a história do Carnaval carioca. "Eu não tinha ideia (que causaria
tanto rebuliço), o brasileiro é libertário, mas é machista e patriarcal".
Após a nudez, a passista mudou os rumos do Carnaval. No ano seguinte a
genitália desnuda foi proibida no sambódromo.
Sua história foi retratada no livro "As Primas Sapecas
do Samba – Alegria, Crítica e Irreverência na Avenida" (Editora Nova
Terra), dos jornalistas Eugênio Leal, Vicente Dattoli e Anderson Baltar,
lançado no último 13 de janeiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário