terça-feira, 27 de janeiro de 2015

PRIMEIRA DESNUDA DO CARNAVAL RELEMBRA COMO SE TORNOU UM “MITO ETERNIZADO”

Era 1989, ano que o Brasil tinha recém saído da ditadura militar, quando Enoli Lara desfilou nua na escola União da Ilha representando a deusa grega Afrodite, parte do enredo "Festa Profana". Ela fez história na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, por ser a primeira mulher a desfilar totalmente nua na passarela do samba. "Virei um mito eternizado", diz a passista de 65 anos.

"Fui convidada pelo (carnavalesco) Ney Ayan e topei na hora. Era para ser a deusa Afrodite fazendo amor com deus Baco. Ney me disse que eu teria inteira liberdade para criar. Ele só falou: 'venha de deusa'", relembra Enoli. "Eu tinha comprado quase 15 mil dólares de fantasia, luvas de crinol francês com cristais Swarovski e um tapa sexo em canutilhos", descreve.

Foi uma brincadeira com seu namorado da época, o jogador de futebol Paulo Roberto Falcão, que a motivou a sair sem roupa no desfile. "Naquela tarde toda de Carnaval eu fiquei namorando o Falcão, o 'Rei de Roma'. Disse para ele que iria sair sem calcinha e que ele iria jogar champanhe do camarote. Ele não acreditou que eu faria aquilo. Quando adentrei no setor 1, ninguém esperava. Incorporei Afrodite e fiz movimentos de cópula. Me senti plena a mais de 10 metros de altura. Sou eternamente grata", relembra.
Sacerdotisa do sexo

Enoli admite que este foi um ato de ousadia e rebeldia que marcou a história do Carnaval carioca. "Eu não tinha ideia (que causaria tanto rebuliço), o brasileiro é libertário, mas é machista e patriarcal". Após a nudez, a passista mudou os rumos do Carnaval. No ano seguinte a genitália desnuda foi proibida no sambódromo.

Sua história foi retratada no livro "As Primas Sapecas do Samba – Alegria, Crítica e Irreverência na Avenida" (Editora Nova Terra), dos jornalistas Eugênio Leal, Vicente Dattoli e Anderson Baltar, lançado no último 13 de janeiro.

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