terça-feira, 20 de janeiro de 2015

FEIRA ONTEM E HOJE

Pelo Telefone

- Alô! É da polícia? Socorro, estão querendo arrombar a porta da minha casa!
- É do 190. De onde fala?
- Ovo da Ema.
- A senhora tá de brincadeira? Vá passar trote mais adiante. É por isso que aqui ninguém gosta de atender telefone.
- Não é trote não, é Ovo da Ema mesmo.
- E onde é que fica isso?
- É na zona rural. Pergunte ao professor Josué que ele sabe.
- É minha senhora, só se ele souber, porque eu nunca ouvi falar dessa tal de ovo de ema.
- Mas vocês não vão mandar ninguém?
- Aí é longe?
- É um pouquinho...
- Ah então vai ficar um pouquinho difícil sabe? É que a viatura tá com pouca gasolina. A gente tá administrando aqui pra vê se dá pra atender as chamadas daqui de perto. Pelo menos a estrada tá boa?
- Tá muito não.
- É, então não vai dar. O caso é sério mesmo?
- O homem tá aqui, invadiu o quintal e agora tá forçando a porta pra entrar.
- Olha, vê se dá um jeitinho aí, conversa com o malandro.
-  Ô meu senhor, se ao menos eu tivesse uma conversa boa assim que nem a de político. Eu prometia um cargo que num precisasse trabalhar, que ele ia ganhar dinheiro no mole. Depois eu não dava nada, ia enrolando, enrolando, até aparecer  uma solução,
- Fala aí com ele, quem sabe dá jeito. Depois a senhora conversa
com o administrador daí, vê se arranja um lugarzinho pra ele na Prefeitura. É tanto cargo. Diz que o outro prefeito era ladrão, porque não pode botar um arrombador pra uma função assim lá de baixo.
- Ô meu amigo, o senhor não sabe que lugar de ladrão de galinha, de ladrão pequeno, é na cadeia?
- É mesmo, tava esquecido.
- Pelo visto o senhor esqueceu é que eu  tô aqui ameaçada. Vai mandar a polícia ou não vai?
- Se eu tô lhe dizendo que não dá, minha senhora! Se vira.
- Mas o prefeito José Ronaldo falou que com telefone em casa a gente ia ter mais segurança.
- Falou foi?
- Foi. Falou lá num tal de "simpósio da violência" na Cama de Vereador. Eu fui e acreditei.
- É?! Então deixa eu pensar... Como é que é esse seu aparelho de telefone? É pesado?
- É. É daqueles antigo, que eu comprei no idos de 1970 quando começaram a falar que ia ter telefone aqui.
-Ah! Então serve, Eu vou lhe dar uma dica. A senhora fica escondida, encostada na parede do lado da  porta. Quando o vagabundo conseguir botar a porta no chão, que ele tiver entrando, a senhora pega o fone do telefone e dá uma cacetada na cabeça dele. É tiro e queda. Entendeu? Alô... ALÕ. Uai, desligou,
- Acho que já resolveu o problema.
(Crônica do jornalista Glauco Vanderley, na Tribuna Feirense de 09 a 15 de junho de 2001)

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