sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

A SAÚDE, A SAÚVA E A VIRTUDE

Em 2013, o dobro do valor do execrado 'Mais Médicos' foi gasto em próteses fraudadas, mas quanto a este escândalo as associações de médicos se calam.

por: Saul Leblon
Nenhuma outra corporação profissional se destacou tanto na guerra aberta à reeleição da Presidente Dilma quando a do jaleco branco.

O pleito foi o ápice de uma espiral de colisões iniciada em 2013, quando as entidades médicas alinharam-se ao conservadorismo mais feroz na oposição ao programa ‘Mais Médicos’.

Classificada como uma fraude, a iniciativa federal de levar cerca de 5,5 mil profissionais cubanos a rincões não cogitados por médicos brasileiros mereceu do Cremesp, o Conselho Regional de Medicina de São Paulo, a seguinte nota, em maio de 2014: ‘Tomaremos iniciativas políticas e eventuais medidas judiciais para impedir essa afronta à saúde da população e à dignidade da medicina brasileira’.

Em outubro, dez dias antes do pleito, a Associação Médica Brasileira (ABM) lançaria um manifesto conclamando os associados a eleger Aécio.

‘Urge mudarmos estas mazelas e descasos, frutos de um ideário político-partidário que nunca teve, na sua essência, a legítima e real preocupação com a saúde no Brasil (...) precisamos retirar do poder aqueles que não se preocuparam com os anseios e necessidades da população, em prol da saúde brasileira. Conclamamos todos a votar em Aécio Neves’, finalizava a nota.

Passados pouco mais de dois meses, uma reportagem do Fantástico, veiculada pela Globo, no último domingo, mostrou bastidores de um, aí sim, gigantesco esquema de mazelas; um assalto aos cofres do SUS, o Sistema Único de Saúde, que carrega no nome a promessa de uma equidade ainda distante.

Os protagonistas dessa sucção ‘não se preocuparam’ -- para emprestar os termos da Associação Médica Brasileira -- ‘com os anseios e necessidades da população, em prol da saúde brasileira’.

Não há leviandade em cogitar – aliás existem evidências -- de que muitos deles atenderam ao apelo cívico-eleitoral lançado pela associação de classe, em outubro passado.

A expressão ‘máfia da prótese’ chega a ser suave no caso.

Ela condensa a ação de uma quadrilha integrada por profissionais da medicina, advogados e fornecedores de próteses.

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