Wilson Ferreira
Dia dos Namorados se aproxima como mais uma data dentro da
agenda comercial que envolve Páscoa, Dia das Mães, Black Friday etc. Os
críticos mais ingênuos acusam de materialismo a imposição comercial da
necessidade em demonstrar amor, afeto ou carinho com presentes caros. Mas a
crítica perde de vista algo de mais profundo e perverso: se para a sociedade de
consumo o amor é uma mercadoria, ela deve ser inserida na lógica básica
mercantil: a escassez do produto conduz a sua valorização no mercado. Por isso,
na atualidade estamos presenciando uma intensa estratégia semiótica de produção
de, por assim dizer, desencontros marcados: frustrações afetivas, insatisfações
sexuais e carências amorosas. Tudo para criar a percepção de que o amor é um
bem precioso porque está em falta, agregando cada vez mais valor a jantares
românticos, caixas de bom bons e joias. Dessa forma, o amor é mais um bem que
se insere na lógica mais geral de criação de escassez para a criação de
commodities como a água, meio ambiente, segurança e felicidade.
Dia dos namorados se aproxima, dessa vez ofuscada pela
abertura da Copa do Mundo de futebol no Brasil. Celebrado como o dia dos casais
apaixonados, surgiu até movimento publicitário de uma marca de cerveja para que
o evento seja antecipado um dia antes e os namorados possam acompanhar a
abertura da Copa.
Realmente, toda a publicidade e a sociedade de consumo sempre necessitaram do fluxo incessante de amor, paixão, afeto e desejos como matéria prima para a promoção de campanhas de produtos e serviços. Mas ao longo dos tempos o Dia dos Namorados na mídia não se contentou apenas em usar o amor como isca subliminar para vender carros, perfumes, chocolates, roupas e cosméticos. Mais do que isso, hoje o amor é oferecido como mercadoria: como algo que você busca, encontra, experimenta e conquista.
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