Por : Paulo Nogueira
Quando você pensa que não existem mais motivos para você
rejeitar ainda mais Serra, eis que ele sempre surpreende.
Agora, um caso relativamente antigo mostra a sorte que os
brasileiros tiveram em se livrar da hipótese nefasta de um Serra presidente.
Estamos falando de como Serra lidou com um terreno público
que a Globo, sem nenhuma cerimônia, tomou para si ao longo de anos.
O terreno, contíguo à sede da empresa em São Paulo, foi
ocupado pela Globo. Você não podia entrar lá, mesmo sendo público. Seguranças
da Globo detinham você.
O terreno virou coisa privada da Globo – numa parábola
dramática do que a empresa faz com o Brasil.
O tema voltou à discussão agora por conta do paralelo que se
faz com um terreno municipal que a justiça de São Paulo negou – acertadamente —
ao Instituto Lula.
Kassab fizera a gentileza com aquilo que não é dele, um
patrimônio municipal, e a justiça negou.
Num mundo menos imperfeito, Lula não teria aceito uma
generosidade tão despropositada, até porque tem meios para bancar seu
instituto. É um dos palestrantes mais bem pagos do mundo, e pode perfeitamente
alugar uma sede para seu instituto sem tomar um prédio dos paulistanos.
Alguém imagina Mujica fazendo o mesmo em Montevidéu?
Mas este mundo é mesmo incrivelmente imperfeito, tanto que a
Globo jamais foi incomodada pelo poder público ao usurpar um terreno público na
São Paulo que seus acionistas, como bons cariocas, abominam e invejam ao mesmo
tempo.
O furto da Globo só veio à luz porque a Record fez uma
excelente reportagem.
O que a Folha — “um jornal a serviço do Brasil”, pausa para
rir — fez com o escândalo? Nada. E a Veja, tão combativa, pausa para mais uma
risada, fez? Nada.
Apenas para um exercício especulativo, e se São Paulo
tivesse acionado a Globo e o processo fosse dar no STF de Joaquim Barbosa,
Gilmar Mendes e Ayres Britto? São todos chapas da Globo no famigerado Instituto
Innovare, pretensamente destinado a premiar boas práticas jurídicas.
Mais uma pausa, agora para emitir um longo gemido de lamento
impotente.
Serra governava São Paulo na época, e interpelado por um
repórter da Record sobre o caso reagiu com sua habitual truculência arrogante.
Em vez de explicações, deu patadas. Se tivesse bom trânsito
com Edir Macedo, ligaria, como tantas vezes fez, para pedir a cabeça do
jornalista.
Denunciado o caso, já não havia como fingir que a Globo era
dona do terreno.
A solução foi abjeta. A prevaricadora se associou, sob
sorrisos, à vítima – o pobre paulista, representado pelo seu governo.
Montaram ali uma escola técnica, à qual se deu o nome de
Roberto Marinho. Melhor: Jornalista Roberto Marinho, que era como o barão
iletrado da mídia gostava de ser chamado.
Na escola, os temas estudados estão vinculados a interesses
editoriais estratégicos da Globo.
A Globo não pediu desculpas aos paulistas. Não cogitou
enfiar a mão no bolso para ressarcir os cofres públicos pelo que sonegou ao não
pagar nenhum tipo de aluguel.
Num vídeo, você pode ver a cerimônia em São Paulo em que o
governador Serra e Roberto Irineu Marinho assinam um contrato que é corrupto em
cada vírgula.
Estão felizes. Roberto Irineu provavelmente contava os
minutos para retornar à sua cidade, e Serra tinha aquele sorriso que ele
reserva para campanhas eleitorais e para homens poderosos.
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