quarta-feira, 25 de setembro de 2013

OS EMBARGOS INFRINGENTES E O "CLAMOR POPULAR"

Por Tão Gomes Pinto
Comecei meu texto da semana passada afirmando que as pessoas estavam dando aos embargos infringentes importância maior do que eles tinham. E acrescentava que o foguetório da mídia não levaria a nenhum lugar, a não ser confundir ainda mais o caso.
Tanto que  há sinais de que o assunto ainda ferve. A entrevista da Mônica Bergamo com o advogado Yves Gandra Martins, sugerindo que o STF condenara inocentes, entre eles José Dirceu, não deve ser levada muito à sério.
Ives Gandra é um especialista em Direito Tributário e essa sua incursão pelo delicado tema dos embargos infringentes só pode ter sido motivada pelo seu instinto midiático, que é formidável.
Mais grave foi a declaração do próprio Celso de Mello a um jornal de Tatuí, no interior de São Paulo, afirmando sim, que sofreu pressão da mídia para derrubar a tese dos embargos.
Que a mídia teve seu papel, isso é indiscutível, e não apenas na sessão em que Celso de Mello deu seu voto.
Já há quase oito anos que a opinião pública vem sendo induzida a acreditar que todos os que se envolveram, ou se envolveriam mais tarde no episódio, tem culpa no cartório.
A opinião pública não se faz do dia para a noite.
Ao contrario da política, que na sábia definição do doutor Magalhães Pinto é como nuvem. Você olha, elas estão de um jeito, dai a minutos mudou tudo.
A opinião publica, ao contrario, vai como que se amontoando, crescendo a cada dia nas suas convicções, que podem ser formadas nas igrejas, nas escolas, nas conversas em casa, nas mesas de um bar, nas rodadas de baralho entre amigos e, naturalmente, pela chamada mídia publicada.
Estava corretíssima a opinião do colunista aqui do Brasil 247 quando escreveu que a imprensa vendeu uma ilusão aos leitores, a ilusão de que os envolvidos no mensalão seriam punidos exemplarmente.  E foi mais longe a influência da mídia, quase que cobrando do STF uma decisão que iria “mudar o pais”.
Não se muda um pais do dia para a noite. Esse foi o grande equívoco que a mídia ajudou a fabricar e a opinião pública engoliu, como se fosse uma pílula miraculosa. Além do que, uma manchete falando em prisão, ajuda a vender, enquanto anunciar absolvições tem apelo muito menor.
Os que mais aguardavam esse quase milagre, e mais do que isso, prometiam um Brasil reabilitado de todas as suas mazelas e seqüelas, falam hoje em decepção e se dizem enlutados.
Algumas de nossas estrelas, nossas tão badaladas musas,  se vestem de negro como viúvas não se sabe do que, não se sabe de quem, e posam para os jornais. Seria ridículo se não fosse grotesco.
Trágico? Não? Não...Afinal os embargos infringentes não significam absolvição dos réus. Eles estão condenados embora não ofereçam perigo para a sociedade – tese que não podia ser utilizada pelos advogados, por indicar que admitiam a culpa.
Eles estão condenados, dai serem infringentes, mas os leitores de qualquer jornal ou revista deveriam parar de sonhar o irrealizável: ver Dirceu atrás das grades. Ingenuidade ? Parte da culpa por esse sonho inviável, sem dúvida é da mídia.
Ninguém em sã consciência imaginaria um José Dirceu preso durante anos a fio. Isso só seria possível num regime totalitário, que pisoteasse a Justiça e acabasse de vez com os pendores democráticos deste país.

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