sexta-feira, 29 de junho de 2018

O ABACAXI E A HUMILDADE JORNALÍSTICA


Por Fernando Brito

Tem um sabor ácido a reportagem curiosa do UOL, hoje, que narra os problemas das plantações de abacaxi pela falta de jornais velhos que embrulhe os frutos ainda jovens, para protegê-los do sol, que a planta pede.

Sou do tempo em que a transitoriedade da “glória” jornalística era simbolizada pela frase: “o jornal de hoje embrulha o peixe de amanhã” e isso ensinava muito aos jornalistas.

Podava-lhes a pretensão e os continha no papel de narrador, não o de personagem, dos fatos.

Vivi o efeito terrível da televisão sobre o jornalismo e não foram um nem dois que se perderam na vacuidade de se tornarem subcelebridades, moléstia que se espalhou para a internet e que, em todos os campos, é de horrorizar aos veteranos do tempo em que se dizia  que “jornalista não é notícia”.

Li, hoje, que a Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo – financiada por  20 jornais  – fará um “centro de checagem” de supostas “fakenews” na internet.

É triste ver que o “ímpeto desmistificador” da geração mais jovem de jornalistas não tenha a mesma intensidade contra as “semi-fakenews” da mídia  convencional, esta mesma que embrulhou, para o país, o “abacaxi” gigante representado pelo golpe parlamentar e judicial que nos atirou no desastre – institucional, político, econômico e social – que nos encontramos hoje.

É tão ridículo quanto ler chamadas como as que temos hoje, sobre a pesquisa CNI-Ibope, que dizem que “CNI/Ibope: Bolsonaro e Marina estão tecnicamente empatados“, como faz a Veja; ou como  “Bolsonaro e Marina estão em empate técnico na liderança, diz CNI/Ibope“, como diz o Valor; ou ainda como faz O Globo: “CNI/Ibope: Bolsonaro 17%, Marina 13%, Ciro 8%, Alckmin 6% e Álvaro Dias 3%“, todos omitindo o fato central, que é o de Lula ter mais que a soma de ambos quando seu nome não é retirado da lista, o que legalmente não foi….

Um quilo de fakenews nas redes sociais tem menos peso que uma grama de distorção no Jornal Nacional. COMENTÁRIOS



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