Por Fernando Brito
Na entrevista publicada no site da CUT, o procurador da
república e ex-ministro da Justiça, Eugênio Aragão, faz um bom resumo do
absurdo do julgamento – em primeira e,
agora, em segunda instância – pelo apartamento no Guarujá.
Dona Marisa [esposa de Lula, falecida em fevereiro] comprou
cota de um apartamento da Cooperativa dos Bancários [Bancoop]. Por dificuldades
financeiras da Bancoop, a obra foi assumida pela construtora OAS. Ao saber que
a esposa do presidente era cotista, a OAS resolveu dar ‘um trato’ numa cobertura,
numa estratégia de marketing que qualquer empresa faz para servir de atrativo a
outros compradores e empreendimentos. Dona Marisa visitou o imóvel, não gostou
e resolveu devolver a sua cota para a empreiteira, que não aceitou. Então, a
ex-primeira dama moveu um processo contra a OAS e a Bancoop para reaver o
dinheiro investido.
O que prova que o imóvel era de Lula? Um escritura ou uma
promessa de compra e venda, ainda que em nome de terceiro? Entrega de chaves?
Não. O uso, mesmo eventual, do imóvel? Não. Uma visita, para ver o apartamento?
Devo ter uns dez, se este for o critério. O resto é “ouvi dizer” que era dele e
até o dono da empreiteira diz que “soube” que estava reservado para ele. Soube
por quem? Não se sabe, e parece que não vem ao caso.
Caso que, do ponto de vista judicial não é, portanto, um
caso.
Muito menos um caso para Sérgio Moro, lembra Aragão:
“É uma ilação dizer que o caso tríplex tem relação com o
petrolão. Na hipótese de haver qualquer motivo para processo – e não há –, o
caso deveria estar em São Paulo ou em Brasília. Isso não tem nada a ver com
Moro. Onde há relação com a Petrobras?”
A suposta relação veio ao final do processo, quando Léo
Pinheiro, já no desespero para se ver livre da cadeia , disse que as obras do
triplex teriam sído “descontadas” numa “conta-corrente” relativa a contratos da
empreiteira com a petroleira, muitos anos antes.
Poderia ter dito que “descontou da conta-corrente” uma
coleção de cachaças de Minas.
A acusação é ridícula para alguém que foi Presidente da
República e teve autoridade sobre bilhões.
Mas o ridículo virou a regra.
A finalidade, que não se disfarça, do processo é,
simplesmente, tirar Lula do processo eleitoral.
E é isso o que o torna um julgamento arbitrário: visar um
objetivo político-eleitoral.
Nenhum comentário:
Postar um comentário