Por Luis Nassif
Qual a intenção de
Sérgio Moro e dos Procuradores da Lava Jato em denunciar dona Marisa? Do ponto
de vista jurídico, nenhuma. Jamais comprovaram que o tríplex era de Lula. Mesmo
se fosse, não havia nada que pudesse ser impingido a dona Marisa. Ela não participava
de discussões políticas, menos ainda de negócios. Limitava-se a cuidar dos
filhos e netos e dar amparo emocional ao marido.
A intenção foi puramente política, de bater, bater, bater em
Lula, até que arriasse emocionalmente.
Não existe ética na guerra. E não existe a figura do inimigo
no direito. A Lava Jato se tornou uma operação de guerra, caçando o inimigo e o
direito se tornou instrumento de vingança.
Não viam a figura da mãe e da avó, mas apenas a mulher do
inimigo a ser abatido.
Divulgaram como prova de crime os pedalinhos que dona Marisa
comprou para os netos. Invadiram sua casa, entraram em seu quarto, reviraram
até o colchão da cama. Levaram seu marido detido, expuseram incontáveis vezes
os filhos no tribunal da mídia.
Esse exercício continuado de crueldade, mais do que estilo
jurídico, é marca de caráter.
É possível encontrá-lo em diversos personagens e diversas
situações, cada qual subordinando-se aos ritos da classe e às prerrogativas da
profissão.
No Judiciário, gera alguns juízes vingadores. No Ministério
Público, alguns projetos de torquemadas. Cada qual busca a jugular do inimigo
valendo-se das armas que lhe foram conferidas institucionalmente. Não lhes
exija momentos de civilidade, respingos de respeito, gotículas de humanidade.
No PCC, há chefes sanguinários que não se contentam com
assassinatos de imagem e mortes civis: eliminam fisicamente os
adversários. Na Polícia Militar os
soldados que, com um revólver na mão, se consideram donos do mundo e das vidas.
No crime, o poder das chefias depende apenas da meritocracia: não há concursos,
nem carreiras pré-definidas, com planos de cargos e salários. E eles correm
risco, pois não contam com a blindagem do Estado. São cruéis e são valentes.
Em comum, todos os vingadores, os da lei e os fora-da-lei,
têm a crueldade de caráter, o gozo infindável de chutar o adversário de todas
as formas, de tratá-lo como inimigo, os fora-da-lei matando pessoas, os da lei
expondo-as ao direito penal do inimigo, desumanizando-as, transformando donas-de-casa
em cúmplices, presentes de avó para netos em provas de crime, violando seu
quarto, sua penteadeira, suas lembranças.
Hoje, na Lava Jato, o juiz Moro e cada procurador colocarão uma marca a mais no coldre virtual de onde empunham suas armas legais. Que pelo menos tranquem a porta antes de iniciar a comemoração.
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