Por Francisco Costa
Acabei de ouvir a gravação completa do telefonema gravado
por Moro, com a conversa entre Dona Marisa e um dos filhos, o Fábio (Lulinha)
que, pelo que tem demonstrado, será o herdeiro político do pai.
Dona Marisa ligou para o Fábio a pedido do Lula, que queria
desabafar (“seu pai está aqui possesso, xingando todo mundo”).
Antes de passar o telefone, Dona Marisa iniciou uma
conversa, reclamando dos coxinhas que há horas estavam batendo panelas sob as
suas janelas.
O filho a tranquilizou: “calma, mãe, nós vamos reverter
isso”, referindo-se à perseguição que a família está sofrendo.
Dona Marisa insistiu no assunto, afirmando que os
“coxinhas”(sic) não eram de São Bernardo, mas vindo de outras localidades,
acrescentando que “o povo de São Bernardo é ordeiro, trabalhador”.
Em outro trecho: “nem a favela se manifestou, é esse pessoal
do condomínio novo, que não tem como comprar um apartamento de 500 mil, compra
um de 15 mil...”, referindo-se à ingratidão dos beneficiários do Minha Casa
Minha Vida.
O filho de Lula, para a mãe: “calma, mulher. Eles têm o
direito democrático, constitucional, de bater panelas, deixa eles baterem”, e
se seguiu o motivo do vazamento da conversa.
Dona Marisa se acalma um pouco e comenta rindo “ninguém é
daqui, nem teu pai é daqui”, referindo-se à origem nordestina de Lula, e dá
umas boas risadas. Lula chega, e ela: “fala com teu pai, filho”.
E eu pergunto: o que esse diálogo tem a ver com Lava Jato,
Petrobras, Odebrecht, delação premiada, corrupção? Nada!
Tanto a lei que regula a quebra de sigilo telefônico quanto
a lei da magistratura são muito específicas e incisivas: nada havendo na
gravação que a ligue às investigações, esta deve ser imediatamente apagada, não
se prestando a nenhum uso.
Mas Moro entregou a gravação à Globo, que a editou, tirando
os elogios ao povo de São Bernardo, a lição de democracia, do Fábio, e a
reclamação da ingratidão dos beneficiários do Minha Casa Minha Vida, pondo no
ar apenas o motivo da doação da fita.
E que motivo foi esse?
Em determinado momento, muito irritada, ela perguntou ao
filho: “porque não enfiam a panela no cu?”
Divulgando a fita, ao invés de apagá-la, como determina a
lei que Moro nunca respeitou, com a conivência, complacência e cumplicidade do
STF, ele e a Globo tentaram denegrir a
imagem de Dona Marisa, desconstruir a sua imagem de mulher calma, simples,
ponderada.
É incrível como um juiz rebaixa-se a nível de fofoqueira de
beira de calçada, de Maricota desocupada na esquina, falando da vida alheia,
para despindo-se da toga, apesar de se valer dela, agir de maneira tão vulgar,
tão infame, tão vil.
É este o ídolo de um bando de alienados manipulados pela
Globo, é este que a mídia finge levar a sério, usando-o, é este que corremos o
risco de ver ministro no STF, é este o retrato dos tempos sombrios que vivemos,
entre medíocres e ladrões, com quase todos reunindo os dois adjetivos.
Os escrúpulos de Moro, ou a ausência de, o faz ir do
fascista que expede mandados de condução coercitiva, não antecedidas de
citação, à fofoquinhas de Maria Lavadeira.
Emblemático, e triste.
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