sábado, 6 de fevereiro de 2016

OS QUE BROTAM DO IMPOSSÍVEL CHÃO

Um dos sinais de degradação de um organismo social é a perda dos seus cronistas.

Pois o cronista é pessoa de poucas certezas e  imensas dúvidas, que enxerga o grande pelo miúdo, adivinha o enredo pela cena, reconstrói na cabeça o que lhe entra pela visão ou pela memória – e sempre passando pelo coração – de um instante do presente ou do passado.

Não é um professor, embora nos ensine, muito menos um sociólogo, embora como poucos seja capaz de falar do agir e do sentir das pessoas no lugar social, emocional, físico onde estão e, sobretudo, onde se sentem estar.

O cronista não tem que ter final, feliz ou trágico, pois o cronista não conclui. Porque khrónos, o tempo, não começa nem termina, a não ser nos frios cadernos da ordem: o da escola, o do contador, o dos diários.

Mesmo quando se serve da memória, o cronista não retrata um tempo morto, mas o que vive e viverá.


É por isso que uma coletividade que perde a delicadeza perde seus cronistas.

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