Um dos sinais de degradação de um organismo social é a perda
dos seus cronistas.
Pois o cronista é pessoa de poucas certezas e imensas dúvidas, que enxerga o grande pelo
miúdo, adivinha o enredo pela cena, reconstrói na cabeça o que lhe entra pela
visão ou pela memória – e sempre passando pelo coração – de um instante do
presente ou do passado.
Não é um professor, embora nos ensine, muito menos um
sociólogo, embora como poucos seja capaz de falar do agir e do sentir das
pessoas no lugar social, emocional, físico onde estão e, sobretudo, onde se
sentem estar.
O cronista não tem que ter final, feliz ou trágico, pois o
cronista não conclui. Porque khrónos, o tempo, não começa nem termina, a não
ser nos frios cadernos da ordem: o da escola, o do contador, o dos diários.
Mesmo quando se serve da memória, o cronista não retrata um
tempo morto, mas o que vive e viverá.
É por isso que uma coletividade que perde a delicadeza perde
seus cronistas.


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