Por Fernando Brito
Caco Barcellos é um dos raros repórteres que não têm horror
à reportagem nem aos personagens dela, quando são gente pobre.
Ah, porque tem gente assim, e como tem, que só se interessa
por eles quando pode render algo “mundo cão”. Cinegrafista esperto já “fecha” a
câmara nos olhos do infeliz quando o texto do repórter força a memória da
desgraça, da morte, da perda, do sofrimento. Não pode “perder a lágrima”.
Caco tem na bagagem algo que poucos da era do “jornalista
modelo-manequim” tem, apesar de ser tido como um tipo meio galã. Foi menino
pobre, na periferia de Porto Alegre, só começou a estudar aos nove anos, quando
Brizola abriu ali, no São José, uma escola de tempo integral. Dirigiu táxi por
muitos anos para pagar a faculdade e, talvez, aí tenha desenvolvido a
capacidade de ouvir as pessoas.
Faz jornalismo com pessoas, não propaganda e exploração
política, contra ou a favor. Aqui não se tem nenhum constrangimento em elogiar
um programa da Globo, quando faz o que deveria fazer, sempre.
Hoje, no comando da equipe de jornalistas do Profissão
Repórter, Caco abre seu espaço para retratos que a imprensa brasileira não se
acostuma a fazer, salvo na desgraça: os do povo brasileiro.
Ontem seu programa foi sobre o “Mais Médicos”, dois anos
quase depois de implantado. Com os problemas, as carências, as dificuldades, os
erros, as fugas de cubanos (sobre as quais bastam os números para julgar: 40 em
11.400 profissionais) mas, sobretudo, as pessoas: médicos, pacientes e os que
nem médico tiveram.
Como o “seu” Raimundo Xavier, morador de uma palafita
próxima a Cametá, no Pará, que perguntado sobre o que diria a jovens médicos
que se dispusessem a ir para lá:
- Dotô, venha pra cá, que nós tá aqui. Nós lhe damos
atenção, nós lhe agrada aqui, tudo, tudo de bom que nós pudé lhe dá, nós damos
para o senhor.
Quem tem nada se oferece para dar tudo, que lição aos
egoístas!
A reportagem que pode ser vista
aqui:
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