Por Luis Nassif
Observação
Esta coluna foi escrita antes da divulgação do último
factoide de Veja
Ontem a boca do jacaré abriu. Essa é a imagem que os
estatísticos usam quando as linhas de desempenho de dois candidatos abrem em
direções opostas.
Na pesquisa Datafolha, Dilma abriu 7 pontos de diferença; 8
na do Ibope; 9 no Vox Populi. Em uma campanha em que tudo parece ter
acontecido, apenas um evento totalmente imprevisível poderá mudar o rumo das
eleições.
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Na segunda-feira começará o terceiro turno das eleições, o
verdadeiro desafio de Dilma, que será administrar a vitória e preparar a
conciliação.
No dia do debate no SBT, escrevi o artigo "Todos
perderam nesse circo de horrores"(http://goo.gl/Ur9EWf). Nele, admitia a
eficácia da estratégia adotada pelo marqueteiro João Santana mas, também, o seu
custo posterior: "No plano puramente eleitoral, liquidou a fatura. A
tática adotada foi de profissionais, mostrando que o marketing político
brasileiro tem o João Santana e a rapa. Minhas críticas à tática de Dilma se
prendem a razões extra-eleitorais: o estímulo ao acirramento ainda maior dos
nervos, as dificuldades futuras para a grande pacificação nacional".
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Jogando toda a campanha na ofensiva, com as denúncias da
Petrobras, quando exposto ao contra-fogo Aécio se perdeu, não tinha uma
estratégia pronta. Sua reação foi descontrolada, passando a imagem de agressivo
com mulheres. Ainda ontem, no horário gratuito, enquanto a campanha de Dilma
era uma festa, Aécio ficou só, ele e a câmera, para exprimir sua indignação.
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A campanha, que já se caracterizara por uma radicalização
pesada, extrapolou. Desde 1964, nunca o ódio político chegou aos níveis de
agora.
O suplente de senador por São Paulo, José Anibal, chamou de
"vagabundo" o diretor da ANA (Agências Nacional de Águas) que,
convocado pela Câmara Municipal de São Paulo, apresentou o quadro trágico do
abastecimento de água no estado; Alberto Goldmann, coordenador de campanha de
Aécio Neves, chamou Lula de "bêbado", o mesmo que Gilmar Mendes, juiz
que perdeu todos os limites do pudor graças à cobertura que recebe da mídia.
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Nos próximos meses haverá o chamado jus esperneandi, com a
tentativa de transformar o caso Petrobras em um processo de impeachment da
presidente.
Não se tenha dúvida que essa cartada será estimulada por
grupos de mídia. Tem a seu favor o sucesso do julgamento do
"mensalão" e o fato de que o episódio Paulo Roberto Costa deixou
marcas profundas na opinião pública.
O STF (Supremo Tribunal Federal) de hoje tem muito mais
responsabilidade institucional que o de alguns anos atrás. Mas, de qualquer
modo, não se deve menosprezar a indignação pública com o episódio.
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Vencendo as eleições, o melhor que Dilma teria a fazer seria
se cercar de estrategistas para o terceiro tempo. Tem que apresentar um
Ministério de primeiro nível, que de certa forma sinalize a conciliação com
setores que se afastaram dela; atacar de cara a questão da reforma política.
E dar uma resposta definitiva ao caso Petrobras, medidas que
garantam, daqui para frente, a blindagem total da companhia e das estatais em
geral contra interferências políticas.
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