Por Nelson Ferraz,
Seguindo o conhecido script, o senador tucano Álvaro Dias
(PSDB/PR) foi ao plenário repercutir a matéria, dizendo que “o Jornal Nacional
fez uma denúncia da maior gravidade, desenhando os caminhos da ilegalidade que
levam esse empreendimento hoteleiro a uma arapuca no Panamá”; o que certamente
será repercutido pela mídia num processo de auto-referência.
Se esta é uma denúncia da “maior gravidade”, o que podemos
dizer do helicóptero de um aliado de Aécio, apreendido com 445 quilos de
cocaína? Ou o “mensalão” tucano, mais antigo do que o petista, e que ainda não
foi julgado? Ou a acusação - ou melhor, confissão - de propinas pagas nas
licitações do metrô de São Paulo?
Nada disso recebeu atenção equivalente da Globo, o que
demonstra uma das formas mais insidiosas de manipulação na mídia brasileira:
“agenda-setting” - a capacidade da mídia de ditar o que é ou não relevante na
agenda de discussão pública.
“The media
doesn’t tell us what to think, but what to think about.”
(“A mídia não nos diz o que pensar, mas sobre o que pensar”)
Se a imprensa é um espelho do que se passa numa sociedade, a
imprensa brasileira é um espelho deformado; e tão revelador quanto o que ela
mostra, é o que esconde, revelando quem manipula o espelho - aquele que nunca
aparece em seu reflexo.
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