segunda-feira, 9 de julho de 2012

ESQUERDA E JUSTIÇA SOCIAL


                                            

                                         
                                                                                                                     (*) Osvaldo Ventura
    Depois da queda do Muro de Berlim, marco simbólico da derrocada do socialismo real implantado na União Soviética, o capitalismo financeiro incumbiu-se, mundo afora, a proclamar a “morte” da esquerda. E não foi sem propósito que o estado-unidense, Francis Fukuyama, escreveu o controverso artigo “O Fim da História”. Segundo Fukuyama, depois do aniquilamento do nazi-fascismo na segunda guerra mundial, e da “desintegração” da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), restou apenas o capitalismo liberal, ou seja, o regime democrático-burguês, trazendo para a humanidade a tão esperada era de paz e tranqüilidade. Assim, Fukuyama pretendia jogar a pá de cal sobre a “esquerda”, supostamente dizimada a golpes desferidos pelo capital “rentista”. Mas a teoria do pretenso coveiro não passou de um blefe, pois logo em seguida o capitalismo neoliberal apressou-se em contradizê-lo, expondo mais uma crise própria de seu DNA: dar voltas sobre si mesmo para tentar sobreviver.
    Quanto ao artigo do nipo-americano, vale ressaltar que suscitou intensos debates entre intelectuais de várias partes do mundo, causando discordâncias até mesmo nas fileiras dos ideólogos da direita. Nas hostes da esquerda mundial, ninguém levou a sério a tese esdrúxula do neoliberal. Até porque, para a chamada “esquerda científica” o grande motor da história da humanidade é a existência das contradições sociais; e estas jamais deixarão de permear as relações entre os seres humanos. Trata-se, simplesmente, de uma questão dialética. Por conseguinte, enquanto houver contradições, haverá história!
    Lamentavelmente, mesmo com o ser humano produzindo atualmente a maior quantidade de riquezas de todos os tempos, a humanidade convive com a exacerbação das contradições, resultado do acúmulo de renda de uns poucos, em detrimento de uma maioria carente de justiça social. No intuito de diminuir o sofrimento de quem necessita de condições de vida digna, os humanistas travam luta incansável no sentido de evitar que o entrechoque das contradições se transforme em antagonismos, responsáveis pelos embates devastadores ocorridos nas sociedades humanas em todos os tempos. Se as contradições sociais já desautorizam que se proclame o fim da história, a existência de antagonismos no seio da humanidade silencia mais ainda quem alardeia a morte da esquerda. Na sua essência, a esquerda vai além de um simples posicionamento político-partidário: é a condição de quem não aceita as injustiças sociais e se dispõe a combatê-las. Por isso, a má distribuição de renda, a pobreza, a miséria, o trabalho escravo, a exploração da mão de obra feminina e infantil e outras mazelas sociais que infelicitam os seres humanos são fatores que sempre determinarão a existência da esquerda.

                                                                                                                                        (*) Escritor
                                                                                         Membro da Academia Feirense de Letras


   

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