(*) Por Osvaldo Ventura
É lugar comum, mas, não deixa de ser extraordinariamente
apropriada neste momento de tanta comoção. Pois é. “Uma imagem vale mais que
mil palavras”. Principalmente se essa imagem é de uma criança de bruços, inerte
sobre as areias de uma praia deserta e fria. Ela também fria. Morta. Vítima da
indiferença, da hipocrisia, da arrogância e do poder de gente adulta que tem
muito poder e desdenha dos sem-poder. Gente poderosa que perdeu os sentimentos
humanos nos caminhos do poder, nas trilhas atapetadas dos mapas dos tesouros de
dólares e euros.
As palavras
soltas ao vento não ecoaram nos ouvidos moucos dos governantes. Afinal,
palavras não deixam vestígios, não imprimem símbolos. Desfaz-se no fundo do
esquecimento. A imagem marca. Penetra na retina, perpassa o globo ocular e se
fixa na mente, como tatuagem. E pode representar alegria, contentamento,
compaixão, amor ou dor. Desafortunadamente, a do garoto Raylan, um “pingo de
gente” na multidão de deserdados da sorte, fez o mundo despertar do torpor,
expondo de maneira cruel uma crise humanitária de proporções jamais vista após
a segunda guerra mundial.
Problema que se
arrasta desde sempre, a migração transformou-se hoje num drama global. Debates
inúteis em inúteis organismos multilaterais não foram capazes de sensibilizar
os “donos do mundo” e alertá-los para a tragédia que se avizinhava, ainda que
não faltassem cenas de multidões desesperadas tangidas como gado, e lamúrias
longínquas e inócuas.
Contudo, a imagem
símbolo que reverteu a insensibilidade não ficou apenas na compaixão passiva,
no lamento distante. Por ironia do destino, a atual e poderosa “Dama de Ferro”,
Chanceler Alemã Angela Merkel, talvez até por um sentimento de culpa
subjacente, deu o brado de alerta e numa atitude de altruísmo impar, abriu as
portas da Alemanha para abrigar um sem números de imigrantes. Gesto este
seguido por outros governantes e louvado em toda parte, embora haja quem
argumente que por trás da “generosidade” da “Führer” esconde-se a necessidade
de salvar sua pátria do envelhecimento
populacional, que ameaça a sobrevivência do país germânico como potência
mundial em médio prazo e no longo prazo como nação.
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