(*)
Osvaldo Ventura
Depois da queda do Muro de Berlim, marco
simbólico da derrocada do socialismo real implantado na União Soviética, o
capitalismo financeiro incumbiu-se, mundo afora, a proclamar a “morte” da
esquerda. E não foi sem propósito que o estado-unidense, Francis Fukuyama, escreveu
o controverso artigo “O Fim da História”. Segundo Fukuyama, depois do
aniquilamento do nazi-fascismo na segunda guerra mundial, e da “desintegração”
da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), restou apenas o capitalismo
liberal, ou seja, o regime democrático-burguês, trazendo para a humanidade a
tão esperada era de paz e tranqüilidade. Assim, Fukuyama pretendia jogar a pá
de cal sobre a “esquerda”, supostamente dizimada a golpes desferidos pelo capital
“rentista”. Mas a teoria do pretenso coveiro não passou de um blefe, pois logo
em seguida o capitalismo neoliberal apressou-se em contradizê-lo, expondo mais
uma crise própria de seu DNA: dar voltas sobre si mesmo para tentar sobreviver.
Quanto ao artigo do nipo-americano, vale
ressaltar que suscitou intensos debates entre intelectuais de várias partes do
mundo, causando discordâncias até mesmo nas fileiras dos ideólogos da direita. Nas
hostes da esquerda mundial, ninguém levou a sério a tese esdrúxula do
neoliberal. Até porque, para a chamada “esquerda científica” o grande motor da
história da humanidade é a existência das contradições sociais; e estas jamais
deixarão de permear as relações entre os seres humanos. Trata-se, simplesmente,
de uma questão dialética. Por conseguinte, enquanto houver contradições, haverá
história!
Lamentavelmente, mesmo com o ser humano
produzindo atualmente a maior quantidade de riquezas de todos os tempos, a
humanidade convive com a exacerbação das contradições, resultado do acúmulo de
renda de uns poucos, em detrimento de uma maioria carente de justiça social. No
intuito de diminuir o sofrimento de quem necessita de condições de vida digna, os
humanistas travam luta incansável no sentido de evitar que o entrechoque das
contradições se transforme em antagonismos, responsáveis pelos embates
devastadores ocorridos nas sociedades humanas em todos os tempos. Se as
contradições sociais já desautorizam que se proclame o fim da história, a
existência de antagonismos no seio da humanidade silencia mais ainda quem alardeia
a morte da esquerda. Na sua essência, a esquerda vai além de um simples posicionamento
político-partidário: é a condição de quem não aceita as injustiças sociais e se
dispõe a combatê-las. Por isso, a má distribuição de renda, a pobreza, a miséria,
o trabalho escravo, a exploração da mão de obra feminina e infantil e outras
mazelas sociais que infelicitam os seres humanos são fatores que sempre determinarão
a existência da esquerda.
(*)
Escritor
Membro da Academia Feirense de Letras
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