domingo, 24 de setembro de 2023

FEIRA ONTEM

                                                                        


            Filho de Jacobina com passagem pelo Rio de Janeiro onde trabalhou ao lado de nomes famosas do radio brasileiro, Aristeu Queiroz  participou da chamada fase de ouro do  rádio feirense, tanto na Rádio Sociedade como na Cultura, na época as duas emissoras existentes em Feira de Santana.

Dublê de radialista, cantor e compositor, com várias canções de sua autoria e por ele interpretadas sendo tocadas nas duas emissoras, Aristeu  Queiroz era o profissional mais procurado  para criar e gravar comerciais. Contribuía para ganhar a preferência dos comerciantes que queriam divulgar seus produtos, o grande sucesso que fazia nos seus programas de auditório.

Os mais antigos, por exemplo, ainda recordam  que o auditório da Rádio Sociedade, instalado no velho edifício “Capirunga”, na esquina  da rua Monsenhor Tertuliano Carneiro com a praça Fróes da Motta  “se enchia de gente para aplaudi-lo”. Aristeu, violão em punho, fazia o auditório chorar cantando as desventuras da ceguinha, na porta da igreja pedindo esmolas: “Ai, quem não vê a luz do dia; Chora, chora de agonia...”

Quando produzir “jingles” era um privilegio  apenas para o sul do país, coube a Aristeu Queiroz  compor e cantar o comercial da “Casa das Borrachas”,  uma das poucas firmas daquela época ainda em atividade e funcionando no mesmo local (rua Marechal Deodoro). O seu “testemunhal” , como se diz atualmente, assim era ouvido pelas ondas das emissoras:

- “Motorista, atenção; Tudo o que você precisa para o seu caminhão; Artigos de borracha; Acessórios também;  A Casa das Borrachas tem”

Cidade de origem comercial, ainda não se falava em industrialização, muito menos no Centro Industrial do Subaé, quando surgiu nas imediações da distante Serraria Brasil, a Industrial de Refrigerantes Angyl, que logo contratou seus serviços profissionais para divulgar o produto. Sempre com o violão, Aristeu cantava a nova marca:

- “Refrigerantes só Angyl; Os melhores fabricados no Brasil. Laranja Citra e Guaraná  Mirim; Gasosa boa  prá  você e prá mim...”

Também  nos embates eleitorais Aristeu Queiroz era convocado para produzir musicas de campanhas. Uma delas foi feita para o candidato a deputado estadual Pedro Matos, proprietário do jornal “A Gazeta” e fundador da rede “Emissoras Unidas da Bahia”,  da qual fazia parte a Rádio Sociedade de Feira de Santana. Aristeu gravou esse  “jingle” inserido ao longo da programação da ZYR/3:

- “O Brasil está sofrendo minha gente; Precisamos combater esta aflição; Eu pergunto quem não sofre, quem não sente; Esta hora que tortura o coração; Nosso povo sempre foi independente; Trabalhando pela glória do país; Deste povo nasce um homem competente; Sertanejo que ampara o infeliz;  Este homem é Pedro Matos; Nova força da batalha nacional;  Candidato a deputado estadual”.

 

                                   MORTE NA COLONIA

Apaixonado e sem ser correspondido, Aristeu  fazia uso excessivo da bebida que o afastava dos microfones. Estimulado pelos que conheciam  mais de perto os seus problemas,  principalmente Frei Hermenegildo e Araújo Freitas (Rádio Sociedade) e Antonio Pereira e Ana Benedita (Rádio Cultura), retornava as atividades,novamente cantando  nos auditórios os versos tristes que lembravam sua amada:

“Zefinha, você que é da terra onde nasci; Me conta Zefinha, minha conta; O que faz você por aqui”...

            Dominado pelo álcool e depois de mais uma rápida temporada na sua Jacobina,  Aristeu era visto perambulando pelas ruas de Feira de Santana, até ser internado no Hospital Colônia  Lopes Rodrigues, aonde veio a falecer, entre os loucos, em 12 de junho de 1976. Mesmo sem o tradicional violão, contam que muitas vezes foi visto na colônia cantando com sua voz macia e dolente, a cidade que tanto amou:

            “Feira de Santana, Princesinha do Sertão; Lindas cidades baianas, que fascina o meu coração; Você que vai para Feira, s sabe que eu sofro assim; Você que vai para Feira, abrace Feira por mim...”.


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