Fernando Brito
É uma pena que este país tenha se tornado um lugar onde
julgamentos moralistas substituíram os julgamentos verdadeiramente morais e
éticos.
Porque o papel de Sergio Moro, hoje, “oferecendo-se” como
“entrevistador” de Lula no Jornal Nacional e, como lembrou o jornalista Xico
Sá, querendo comportar-se como no tempo em que determinava a pauta da Globo,
estaria, a esta altura, recebendo o repúdio de qualquer pessoa que já tenha
ouvido falar em juiz imparcial.
É a confissão, espontânea e desavergonhada, de que conduziu
os processos de Lula com o fim deliberado de causar danos à imagem do
ex-presidente e a interferir no processo eleitoral.
Aliás, mais uma: já foi servir como ministro ao presidente
que ajudou a vencer a eleição por não ter de enfrentar Lula, já foi atuar para
empresas que lucraram com empreiteiras que ajudou a falir e, agora, depois de
fugir da candidatura presidencial da qual foi repelido pelo desprezo dos
eleitores, quer ser o inspirador de jornalistas que, ele crê, assumirão o papel
de algoz em que tão mal ele se saiu em relação ao ex-presidente.
Moro tornou-se um personagem asqueroso, capaz de qualquer
coisa para promover-se a um cargo, qualquer cargo, que lhe devolva, mesmo que
aos farelos, a aura de divindade que esfregou na lama, ao ponto de ver
declarado nulo até o endereço residencial que declarou à Justiça Eleitoral.
Ética e Sergio Moro não andaram, não andam e não andarão
nunca juntas.
Mas de alguma coisa mais esta vergonha servirá. É uma resposta ensaiada para quem queira agir no jornalismo como ele agiu no Judiciário. A Globo não espere que Lula vá temer numa entrevista o que não temeu num interrogatório tão cínico quanto o que lhe fez Moro e tem o direito de perguntar se querem fazer com ele o mesmo que o Supremo Tribunal Federal condenou Moro por fazer.
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