Fernando Brito
Parece que a influência do marqueteiro João Santana conseguiu
domar o “pavio curto” de Ciro Gomes. Mas o resultado disso foi um Ciro
“certinho”, mas insosso.
Expôs um programa de governo algo onírico, que pode encantar gente do famoso Reino da Quinta Essência que Rabelais descreveu como aquele em que se desenhava na água e media-se o salto das pulgas.
A ideia de que um presidente sem base parlamentar vá aprovar plebiscitos a torto e a direito, que dependem de aprovação congressual. E que, recordemos, significa uma renúncia de deputados e senadores a seu monopólio legislativo.
Disse que quer apenas 4 anos, sem reeleição, mas quer moldar o Brasil por três décadas. Quer um benefício de mil reais para dezenas de milhões de famílias, todas as que são pobres no Brasil, mas não fala de salário mínimo, Fala de transformar a educação brasileira numa das melhores do mundo, mas não fala como. Não menciona a saúde, não falou de habitação, não tocou – exceto por uma menção a um suposto sistema inglês – num de seus pontos fortes, o enfrentamento ao endividamento das famílias.
Mas foi, reconheça-se, uma entrevista programática, ainda que de um programa distante das aflições diárias das pessoas. Até ameaçou falar da fome, mas o fez sem emoção, uma imensa chance desperdiçada, como quem ali, no início do programa, é o mesmo que chutar sem força uma bola livre, na marcado pênalti.
Ajudou-o, com certeza, a pouca ou nenhuma disposição de William Bonner e Renata Vasconcelos em desconstruir uma candidatura que, até para seus próprios eleitores, é apenas uma “escala” para um voto em Lula no 2° turno. Simples: a demolição de Ciro ajudaria uma eleição de um turno só e uma vitória de Lula com muito mais força política.
É por isso que não se fez a pergunta óbvia: a de porque a 3a. Via, ele inclusive, não decolou e a população enxerga um Lula ou Bolsonaro como a escolha necessária.
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